A alternativa foi estudada e resultou numa solução viável, económica e que não afecta nem o ser humano, nem o ambiente.
Comissão Europeia

O projecto LIFE Enviphage, no qual participaram investigadores da Universidade de Aveiro (UA) no âmbito de uma investigação interdisciplinar de quatro anos, produziu um estudo sobre a possibilidade de acabar com a utilização de antibióticos na aquacultura, assim contribuindo para diminuir a proliferação de bactérias resistentes (que são susceptíveis de se tornarem um problema de saúde pública). A investigação teve início em 2014 e foi co-financiada em 50% pela Comissão Europeia (CE), com 820.662 euros, e coordenada pela empresa AZTI.

O estudo concluiu que o uso do bacteriófago (ou fagos), vírus que destrói bactérias específicas) AS-P1 não tem implicações para o meio ambiente e é uma alternativa capaz de reduzir ou mesmo eliminar Aeromonas salmonicida (agente causador da furunculose em peixes) em pisciculturas. Assim, o uso de bacteriófagos em vez de antibióticos não estimula a imunidade nos peixes, não afecta significativamente os ecossistemas – em águas piscícolas, águas circundantes à piscicultura, trato intestinal de peixes expostos a bacteriófagos e em modelos animais – e não afecta a “normalidade” nesses ecossistemas, segundo comunicado da UA.

Por destruírem bactérias específicas, os bacteriófagos são viáveis para inactivar bactérias patogénicas. Além disso, os modelos utilizados na investigação sugerem que este bacteriófago não tem efeitos negativos para a saúde humana. E a produção à escala industrial é possível e viável. Sendo “esta tecnologia barata, o preço de produção é bastante mais barato do que o de produção de antibióticos”, afirma Adelaide Almeida, do Departamento de Biologia da UA.

Já há autorizações para usar esta tecnologia na agricultura e na aquacultura em vários países, nomeadamente da Europa de Leste, no entanto, no caso especifico da aquacultura em Portugal, “falta produzir o fármaco em condições e em grandes quantidades para poder utilizá-la e falta incorporar na legislação a permissão para que seja feita no quotidiano”, conclui Adelaide Almeida.

Agora, relembra a investigadora, resta “aguardar aprovação ou legislação, ou alguma indústria farmacêutica que queira investir e que veja que estes resultados que funcionam e não têm efeitos negativos”. Quer isto dizer que “é preciso fazer ainda alguns estudos em grande escala para ver se funciona realmente, e ai terá que haver algum investimento ainda, mas não será mais caro do que antibióticos, pois é barato e rápido, dado que num dia conseguimos produzir uma suspensão de fagos”, conclui.

Assim, o método que aguarda aprovação pelas autoridades competentes para poder ser usado industrialmente serve já de recomendação para avaliar o efeito dos fagos no meio ambiente e nos microrganismos do trato intestinal dos peixes, por parte das autoridades locais.

Desde 2014, para além da equipa de investigadores da Universidade de Aveiro, coordenada por Adelaide Almeida, e da empresa líder na área alimentar (AZTI), participaram também a Piscicultura Aquacircia de Aveiro, que disponibilizou os peixes e as infra-estruturas onde foram feitas as experiências, e a empresa Biopolis, que fez a análise molecular das amostras.



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