O peso crescente das renováveis modificará o panorama geopolítico global, gerando novos actores energéticos, novas relações comerciais e novos jogos de influência estratégica
IRENA

Um relatório recente da Agência Internacional das Energias Renováveis (IRENA, no acrónimo em inglês) concluiu que as consequências geopolíticas e económicas de uma «nova era energética», caracterizada pelo peso crescente das energias renováveis, podem ser tão profundas como as que acompanharam a mudança do paradigma da biomassa para o dos combustíveis fósseis, há cerca de dois séculos.

A conclusão é da Comissão Global da Geopolítica da Transformação Energética, uma iniciativa independente lançada no âmbito da Assembleia Geral da IRENA, em 2018, e admite alterações na posição relativa dos Estados, a emergência de novos líderes energéticos, actores energéticos mais diversificados, novas alianças e modificações nas relações comerciais.

Denominado «Um Mundo Novo», o relatório, citado pelo Maritime Executive, conclui, por exemplo, que as fontes de energias renováveis estarão disseminadas, sob uma ou outra forma, em geografias muito diversificadas, ao contrário dos combustíveis fósseis. Uma disseminação abundante que reforçará a segurança energética e induzirá uma independência energética num maior número de Estados.

Paralelamente, os conflitos relacionados com o petróleo perderão importância, tal como a relevância estratégica de algumas passagens marítimas, como o Estreito de Ormuz, por onde passa diariamente 30% do comércio marítimo de petróleo e uma parte significativa do comércio de gás natural liquefeito (GNL).

Novos líderes energéticos deverão nascer, à medida que as renováveis forem ocupando o lugar das energias fósseis e que cada vez mais investimentos forem feitos nas renováveis, reforçando a influência de alguns Estados, conclui também o relatório. A China é mencionada como exemplo de um Estado que procura chefiar a mudança global para as energias limpas. Já os exportadores de energias fósseis, poderão perder influência, excepto se se adaptarem aos novos tempos.

Por outro lado, os importadores de energias fósseis, poderão aproveitar a oportunidade para reduzir a sua dependência energética e os riscos associados à volatilidade dos preços do petróleo. As energias renováveis poderão contribuir para maior acesso global à energia, criar empregos, fomentar o crescimento económico sustentável, reforçar a segurança alimentar e do acesso à água e induzir a defesa do ambiente.

 



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