Um estudo sobre o efeito a longo prazo da mineração numa fossa abissal demonstrou que os ecossistemas permanecem afectados nesses locais mesmo décadas após a intervenção humana
National Oceanography Centre

O impacto ambiental da mineração sub-aquática em zonas de profundidade pode manter-se por décadas, concluiu um estudo do Centro de Oceanografia Nacional (NOC, no acrónimo em inglês) do Reino Unido, feito em parceria com o instituto alemão GEOMAR, publicado recentemente na Scientific Reports, refere uma nota no portal do NOC.

O estudo incidiu sobre uma fossa abissal de 4 mil metros de profundidade no Oceano Pacífico, ao largo do Perú, que tinha sido objecto de uma experiência de mineração em 1989 por parte de investigadores alemães. Trinta anos depois dessa intervenção, o local acusa os seus efeitos, concluiu o estudo agora realizado, com recurso a um robot sub-aquático e um tratamento de imagens obtidas no local com esse equipamento.

O robot realizou um mapeamento da zona em análise, cobrindo 11 hectares de fundo marinho, que fotografou detalhadamente. As imagens foram combinadas posteriormente, formando um mosaico fotográfico, o maior de sempre obtido a partir de uma fossa abissal. E com isso foi possível identificar as espécies existentes no local, bem como os vestígios das que existiam há três décadas.

Segundo o NOC, “enquanto as espécies móveis, como os pepinos do mar e as estrelas do mar, foram capazes de recolonizar a área impactada, muitos animais, como as esponjas e as anémonas do mar, vivem presas ao fundo marinho e tornaram-se virtualmente ausentes na zona directamente impactada”. Diz ainda o NOC que “face ao importante papel destes animais nos ecossistemas abissais, os resultados sugerem que o impacto da mineração comercial em larga escala pode levar a uma perda irreverssível de funções chave dos ecossistemas”.

O tipo de mineração a que esta fossa abissal fpi sujeita incide sobre nódulos polimetálicos, que são rochas em forma de batata ricas em cobre e manganês. Como explica a publicação, estes nódulos são uma base estável para as anémonas do mar, corais suaves e esponjas, demorando milhões de anos a formar. A remoção de nódulos enterrados na sequência da mineração significa a perda destas bases, limitando a capacidades destas espécies recolonizarem as zonas impactadas e assim reporem os ecossistemas entretanto afectados.



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