Nuno Lourenço
Em Portugal são executadas desde 1979 campanhas científicas para assegurar a recolha de dados e estudos sobre a biologia, estrutura populacional, distribuição, abundância e avaliação do estado dos recursos pesqueiros explorados nas áreas do Conselho Internacional para a Exploração do Mar (ICES). Estas actividades e estudos são atribuições do Programa Nacional de Amostragem Biológica (PNAB) que constitui uma obrigação nacional no âmbito do Programa Comunitário de Recolha de Dados, fundamental para o aconselhamento científico relacionado com a Política Comum das Pescas (PCP). Neste âmbito O IPMA realiza várias campanhas de investigação anuais: acústica para pelágicos, arrasto de fundo para demersais, arrasto de fundo para crustáceos. A cada triénio junta-se uma campanha destinada a determinar a Produção Diária de Ovos (MPDO) para a sardinha e para o carapau.
As campanhas acústicas, realizadas de forma continua desde 1997, têm como objectivo avaliar a abundância de peixes pelágicos (sardinha, biqueirão, cavala, carapau) entre Gibraltar e Caminha pelo método do rastreio acústico e as campanhas de ovos têm como objectivo estimar a biomassa de sardinha adulta pelo Método de Produção Diária de Ovos. Estas campanhas contribuem em conjunto para a avaliação dos stocks dos principais recursos pesqueiros pelágicos.
As campanhas de investigação demersais e de crustáceos, realizadas com o NI Noruega, constituem a mais importante colecção de dados sobre a distribuição e abundância das várias espécies marinhas da costa portuguesa. As campanhas demersais, realizadas anualmente desde 1979, amostram a comunidade demersal da plataforma continental e vertente entre os 20 e 500 m de profundidade, através da realização de 96 arrastos de fundo entre Caminha e Vila Real de Santo António.
As campanhas de crustáceos realizam-se de forma regular desde 1997 e têm como objectivo principal a estimação dos índices de abundância e da estrutura das populações do lagostim, a gamba e o camarão vermelho, contribuindo para a avaliação dos respectivos stocks. Durante um período de 3 semanas, são cobertas as áreas ao largo do Alentejo e do Algarve, através da realização de 80 estações entre os 200 e os 750 metros de profundidade.
Em 2014 estas campanhas corresponderão a um total de dias navegados de cerca de 140 dias.
Actualmente o N/I Noruega é o único navio do Estado capaz de realizar investigação em pescas em águas oceânicas. O N/I Noruega foi adquirido em 1978, como parte dos acordos de cooperação entre Portugal e a Noruega, tendo sido a sua aquisição financiada pela Noruega. É um navio de arrasto com um foco operacional específico na investigação em Pescas. Durante 36 anos o navio N/I Noruega serviu o governo Português e a comunidade de C&T nacional, coleccionando um conjunto muito significativo de dados em pescas, bioquímica, oceanografia física, biológica e geológica.
No entanto, as condições tecnológicas do N/I Noruega estão já bastante desactualizadas e as condições físicas do navio aproximam-no do fim de vida útil. A este facto acresce que as necessidades atuais e futuras para operação no ambiente marinho, no quadro da investigação e da sua monitorização obrigam à utilização de um navio mais versátil e moderno, que assegure a capacidade de operações no mar para os próximos 20 anos. Este navio terá a capacidade de abrir, em âmbito e alcance, os programas de monitorização e permitir a obtenção de respostas integradas e multidisciplinares a problemas concretos e à insuficiência do conhecimento actual que resultam no presente numa menor capacidade de gestão, por parte do Estado, do seu espaço marítimo.
A concretização do objectivo do projecto proporcionará a Portugal uma maior capacidade para operar no ambiente marinho, de forma complementar aos meios existentes. Pretende-se assim assegurar uma plataforma tecnologicamente actualizada e duradoura que permitirá assegurar a continuação das operações para avaliação dos recursos da pesca, monitorização do ambiente marinho, promover campanhas de I&D fundamentais ao seu conhecimento e de suporte às acções que decorrem da implementação da Estratégia Nacional para o Mar.