Num parecer provisório, o ICES concluiu que mesmo que se proíba a pesca da sardinha, face ao estado do stock gerido por Portugal e Espanha, seriam precisos 15 anos para repor a sua sustentabilidade
Acerga

Um parecer recente do International Council for the Exploration of the Sea (ICES) sobre o stock de sardinha gerido por Portugal e Espanha concluiu que face à situação actual do stock, mesmo que se impeça a pesca da espécie, serão necessários 15 anos para que a mesma volte a ser sustentável.

O parecer é provisório e mesmo depois de definitivo não será vinculativo. Segundo apurámos, face aos resultados divulgados pelo ICES, o Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) deverá realizar um cruzeiro científico para recolher mais dados destinados à elaboração do parecer definitivo. Mas este é um dado que não conseguimos confirmar.

Na opinião de Rita Sá, da Organização Não Governamental (ONG) Pong-Pesca e da World Wild Fund (WWF), conhecedora do parecer do ICES, dificilmente os novos dados do IPMA poderão conduzir a uma conclusão muito diferente desta. Até porque, segundo Rita Sá, “o stock de sardinha sofreu uma queda acentuada nos últimos 10 anos, particularmente visível no recrutamento da espécie”, ou seja, nos elementos juvenis (com menos de um ano de idade), o que dificulta a recuperação da sardinha.

Embora reconheça o esforço do sector e do Governo na gestão da pescaria da sardinha, Rita Sá considera que “não podemos contornar os dados científicos”. Nesse sentido, defende “o reforço da capacidade da investigação em Portugal, designadamente no IPMA”, e considera que “devemos pensar em alternativas para a frota, hoje muito assente na pesca da sardinha, mais do que estarmos sempre a pensar em termos de quotas”.

Entre as alternativas, Rita Sá refere o carapau, “que se for capturado pelo cerco é perfeitamente sustentável”, entre outras espécies tradicionalmente menos valorizadas, mas que são susceptíveis de valorização. A cavala, que tem sido valorizada, é encarada com algumas reticências por Rita Sá, “porque se desconhece o estado do stock”.

 



3 comentários em “ICES conclui que stock de sardinha não é sustentável”

  1. Nuno cardoso diz:

    Para quem é de peniche
    Será que ninguém refere ou se lembra pelo menos dos milhões de toneladas que se mandavam fora todas as noites quando o preço na lota atingia o chamado preço de retirada. Sim eram toneladas que os barcos praticamente, todas as noites de verão, iam deitar fora dos milhões de sardinha ou carapau ou cavala. O preço de retirada era pago pelo governo e comunidade europeia. Agora choram…….tenham paciência e vergonha.

  2. Marcelino diz:

    Bom dia, com esta noticia já esperada a mais de 30 anos ,repito posso somar e projetos na Espanha , Portugal , França ,fazendo criações com alta escala e poder deixar a NATUREZA RESPIRAR ,e montar vários criatórios de diversas especies e custo não
    e muito alto ,e escola que iram multiplicar ,e ter soluções no que ja e informado para
    o futuro do mundo com o aquecimento Global ,ira ter muita a falta de alimentos e
    todos ficam esperando o ultimo dia para tomar atitude ,e o dia chegou !

  3. Sérgio Mendonça diz:

    A origem do problema entre outras causas está em teimarmos em não respeitar os pareceres científicos. Como é referido em 2015 o ICES recomendou que a captura da sardinha não ultrapassasse as 1.584 toneladas em Portugal e Espanha. O bom senso recomendaria terem sido respeitados os pareceres, mas a ganância prevaleceu e foram capturadas quantidades 11x superiores, fora as toneladas que foram vendidas à candonga.

    A sardinha, a cavala, o carapau e outras espécies semelhantes podem ser catalogadas como peixe pasto. Estas espécies estão na base da cadeia alimentar. São essências à sobrevivência de inúmeras outras espécies e não nos podemos dar ao luxo de as consumir quando já estão sobrexploradas. Muitas espécies de aves marinhas e peixes e mamíferos estão em declínio, entre outras causas, por falta de alimento. O meu falecido avô era pescador da pesca da sardinha e contava que épocas houve em que não tinham pão e tinham de comer a sardinha em cima de cortiça. Era o alimento do povo. Peixe nunca faltava. Hoje a realidade é muito diferente e quem vai ao mar sabe-o bem. Talvez não o diga porque é o seu ganha-pão e tem receio que hajam mais interdições. Mas a continuar assim esta actividade, a pesca, tem os dias contados. É tempo de inverter esta têndência. Se as minhas contribuições e impostos servem para salvar bancos também deverão servir para salvar espécies e ecossitemas dos quais dependemos. Paguem subsídios para converter ou abater frotas e compensar os pescadores tanto quanto possível.

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