O financiamento foi atribuído no âmbito da 1ª fase do instrumento PME do Horizonte 2020 e visa apoiar um projecto de desenvolvimento de um analgésico contra a dor crónica a partir de derivados de origem marinha
VTS

A empresa portuguesa Sea4Us acaba de ser contemplada com um incentivo financeiro de 50 mil euros, no âmbito da 1ª fase do instrumento PME do Programa de Investigação Horizonte 2020 da União Europeia (UE). A quantia servirá para apoiar “uma prova de conceito e um estudo de viabilidade” de uma “plataforma que aplica novas abordagens biotecnológicas para explorar compostos derivados marinhos, usados para desenvolver novos produtos farmacêuticos”, refere a Comissão Europeia (CE).

Filipe Vilas-Boas, COO e co-fundador da empresa, detalhou ao nosso jornal que o projecto contemplado irá permitir a definição dos próximos passos no desenvolvimento de um fármaco, “incluindo a realização de ensaios clínicos”, para o que a Sea4Us “irá estabelecer novas parcerias, actualizar o business plan e preparar as novas fases de investimento”.

A Sea4Us beneficiará igualmente de três dias de formação empresarial (coaching) e serviços gratuito de aceleração empresarial, além do prestígio reputacional associado a esta medida e ao potencial que ela liberta para a eventualidade de a empresa ser contemplada na 2ª fase deste instrumento de apoio financeiro, que poderá abrir portas a um financiamento ainda maior e muito atractivo.

O projecto em causa consiste formalmente num «Desenvolvimento de um novo analgésico para o tratamento da dor crónica derivado de compostos de origem marinha», designado pelo acrónimo «Sea4Pain», e visa, em particular, desenvolver “um novo analgésico para a dor crónica moderada a severa, de alta eficácia, com reduzida toxicidade e efeitos colaterais limitados, dando origem a uma nova classe de fármacos”, conforme nos esclareceu um dos elementos da empresa.

De acordo com dados disponíveis no Centro de Dados do Instrumento PME, o orçamento total do projecto para esta fase é de 71.429 euros, dos quais 50 mil são financiados ao abrigo desta medida. Ali se refere também que a empresa já recebeu 525 mil euros em apoios financeiros portugueses e comunitários para investigação, levantou 10 mil euros em operações de crowdfunding e obteve 250 mil euros em capital de risco.

Fundada em 2013, a empresa tem uma equipa de 13 profissionais ocupada em desenvolver tratamentos inovadores contra as dores. No Centro de Dados do Instrumento PME refere-se também que o mercado global de medicamentos e dispositivos contra as dores estava estimado em 40 mil milhões de euros e deverá valer 41,5 mil milhões de euros em 2022.

Em 2014, Pedro Lima, na qualidade de investigador principal da empresa, hoje CEO, adiantava ao nosso jornal que a dor crónica representava um encargo para a economia e a sociedade e que em Portugal esse encargo representava 3% do PIB nacional. Nesse ano, o investigador referia-nos que o nosso país gastava 4.611 milhões de euros com a dor crónica, dos quais 1.997 milhões em despesas directas do sistema de saúde e o remanescente devido a faltas ao trabalho e a baixa produtividade.

Também em 2014, o investigador admitia que a missão da Sea4Us era encontrar “novas soluções para patologias humanas”, com recurso a extracção de amostras dos oceanos, e que a empresa pretendia agir na área da biotecnologia para posteriormente vender o seu produto a uma grande farmacêutica, num prazo de 3 a 5 anos. Uma ideia que permanece no horizonte da empresa.

Segundo apurámos, embora sem confirmação, até hoje, a empresa poderá já ter investido neste projecto mais de um milhão de euros. Em 2014, Pedro Lima admitia que o investimento neste projecto é de risco elevado, mas pode gerar um alto retorno se for obtido o licenciamento do produto.



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