As empresas alegaram falta de condições para manter a actividade, numa decisão que foi aplaudida por associações ambientalistas
GNL

A GALP Energia anunciou ontem que a empresa e a ENI vão abandonar o projecto de prospecção petrolífera que mantinham para a costa alentejana, alegando “as condições existentes”, aludindo a constrangimentos legais, segundo o Observador, que “tornaram objectivamente impossível prosseguir as actividades de exploração”, revelaram vários meios de comunicação social.

Segundo a imprensa, a GALP Energia terá acrescentado que “dada a existência de diversos processos judiciais em curso sobre este assunto, as duas empresas não farão comentários adicionais neste momento”. O anúncio terá sido feito pelo próprio presidente executivo da GALP Energia, Carlos Gomes da Silva, durante uma conferência sobre os resultados do terceiro trimestre.

Na origem da decisão estará, porventura, o desgaste provocado pela contestação à exploração por parte de associações ambientalistas, autarcas e alguma opinião pública, mas sobretudo pela suspensão da realização de um furo exploratório previsto para Outubro resultante de decisão judicial, e que poderia impedir o cumprimento de prazos contratuais da concessão a partir de 31 de Janeiro de 2019,a não ser que o prazo para pesquisa fosse novamente prorrogado.

Em declaração emitida pela empresa, a GALP Energia admite todavia que vai “continuar a investir em Portugal e a abrir caminhos no campo da mobilidade sustentável, a apostar na competitividade e na eficiência energética e ambiental das refinarias bem como reforçar progressivamente a aposta nas fontes de energia de base renovável em regime de mercado”.

Carlos Gomes da Silva terá lamentado a impossibilidade de avaliar o potencial de recursos offshore do país e a empresa sublinhou que mantém a intenção de partir do mercado nacional para lançar bases de uma mudança estratégica dos seus negócios, concentrados no petróleo e gás natural, para ir ao encontro dos novos desafios da descarbonização.

Para a Zero – Associação Sistema Terrestre Sustentável, este anúncio “constitui uma das mais importantes vitórias do movimento ambientalista local, regional e nacional que motivou um enorme consenso de dezenas de milhares de pessoas, de autarcas, de empresários”.

Sublinhando que surtiram efeito os avisos sobre conservação dos valores do Sudoeste Alentejano, a associação lembrou que o projecto “envergonhava Portugal à escala internacional e manchava a sua política de ambição climática ao querer apostar em completo contraciclo na exploração de combustíveis fósseis”.

O movimento Alentejo Litoral pelo Ambiente (ALA) também se congratulou com a decisão e em declarações rádio Miróbriga, um dos seus membros, Eugénia Santa Bárbara, considerou que esperava “que esta decisão fosse tomada pelo Governo”, não pelas empresas, mas que ficava satisfeita “que assim tenha sido, também porque o mais importante é que não tenham avançado com esta novidade na nossa costa”.

A Zero referiu ainda que permanecem concessões em vigor, como no caso da exploração de gás natural por fracking em Aljubarrota, que a associação deseja ver terminadas definitivamente. Por seu lado, o ALA espera que a decisão do consórcio incida sobre as três concessões previstas para a bacia do Alentejo.

 



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