A fuga de informação técnica sobre a construção dos submarinos franceses Scorpène está a causar graves embaraços entre Paris, nova Deli e Camberra.

A fuga de informação técnica sobre a construção dos submarinos Scorpène vendidos à Índia pela francesa DCNS, estão a causar algum embaraço entre Paris, Nova Deli e Camberra.

Revelada a fuga de informação pelo jornal The Australian, a primeira reacção foi a de se admitir a falta de segurança de dados e informação sensível por parte da DCNS, embora hoje a Reuters avance estar já estabelecido, tanto quanto possível, nesta fase, ter-se tratado de efectivo roubo de informação por um oficial da marinha francesa, antigo empregado de uma empresa indiana subcontratada da DCNS.

Mais do que isso, sobre o conteúdo da informação das 22 400 páginas de informação roubadas, segundo também as últimas informações citadas pela Reuters a partir de uma fonte oficial francesa, não são críticas nem vitais, não ultrapassando a classificação de «informação reservada», não obstante o jornal australiano referir ter editado a informação publicada mas que os documentos revelam todos os dados sobre sensores em emersão e em submersão, bem como os respectivos sistemas de combate, sistemas de lançamento de torpedos e sistemas de comunicação e navegação.

 

Uma fuga de informação que vem também reacender uma intensa luta comercial uma vez que surge na sequência do contracto ganho pela DCNS, no valor de 34 mil milhões de euros, para a construção de 12 submarinos para a Marinha Australiana e válido para 25 anos, em fase de assinatura, envolvendo também as empresas norte-americanas Lockheed Martin e Raytheon, responsáveis pelo fornecimento dos respectivos sistemas, que, entretanto, haviam referido já temerem fugas de informação técnica por parte dos franceses.

Um concurso onde talvez se justifique lembrar terem ficado pelo caminho a TKMS alemã que não dispõe das ajudas que o Estado Francês concede as respectivas empresas nestas circunstâncias, pelo protótipo apresentado não manifestar as características de discrição acústicas exigidas, bem como o consórcio japonês Kawazaki-Mitsubishi apoiado directamente pelo Primeiro Ministro Shinzo Abe com o objectivo de voltar a ver  indústria de defesa nipónica com capacidade de expansão internacional depois o levantamento dos impedimentos constitucionais imposto no pós-guerra.

Para além disso, não será também d esquecer os círculos norte-americanos que não deixam de ver com bons olhos uma aproximação e mesmo uma aliança naval Austrália-Japão face à China.

Por outro lado, o facto de os franceses, perante a notícia da fuga da informação, terem tido como primeira reacção a acusação de que a mesma teria ocorrido a partir da Índia, também não caiu bem em Nova Deli, nem a fuga de informação propriamente dita, uma vez estarem a ter agora início os primeiros ensaios do Kalvari, o novo submarino indiano construído a partir dos Scorpène e que é também o primeiro de uma conjunto de seis já contractados, estando entretanto a ser negociada possibilidade de três outros adicionais, prevendo-se, neste caso, a possibilidade de serem equipados com sistemas de produção de energia em circuito fechado para aumento da respectiva autonomia diesel-eléctrica, a partir de uma designada pilha de combustível, tecnologia que a TKMS, empresa rival antes preterida, também dispõe nos seus submarinos U214.



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