O geólogo considera que o fundo do mar dos Açores pode ter potencial mineral, mas para o conhecer importa fazer estudos aprofundados, quer para minimizar o impacto ambiental, quer para avaliar o interesse económico na sua exploração. Já há interessados na prospecção, mas o tema está suspenso
PSOEM

Precisamos de estar preparados para ir buscar aos fundos marinhos “coisas que fazem muita falta à superfície”, referiu ao Correio dos Açores o geólogo e professor universitário Fernando Barriga, representante de Portugal no European Corsortium of Oceanic Research Drilling (Consórcio Europeu de Perfuração para Pesquisa Oceanográfica).

O cientista aludia à importância crescente de certos materiais, como alguns metais, na vida quotidiana e que por escassearem cada vez mais nos continentes têm que ser procurados no fundo do mar. Na entrevista, deu os exemplos dos telemóveis, dentífricos, cosméticos, aparelhos de imagiologia médica e torres eólicas, que requerem grandes volumes de minerais.

Como em simultâneo “queremos uma sociedade com energia verde, energia que não tenha uma pegada de CO2”, o cientista considera que “vamos ter uma transferência dos custos, dos materiais críticos, para os metais”. Todavia, como reconhece perigos para o ambiente, defende um estudo dos ecossistemas e a produção de tecnologias de extracção de minérios “o menos invasivas possível, que deixem uma pegada, uma interferência mínima e isso está cada vez mais na ordem do dia”.

Nesse contexto, reconhece que pela dimensão e pelas condições geológicas, o mar dos Açores é uma fonte de oportunidades nessa matéria. Referiu que “há três empresas que estão interessadas no fundo mar em Portugal”, embora nos Açores não existam planos para a sua exploração marítima. Uma grande empresa internacional já terá feito um pedido de concessão no mar dos Açores, “mas isso está, digamos, congelado”, até porque “estamos à espera de legislação adequada”.

No caso do mar dos Açores, Fernando Barriga adiantou que antes de mais importa saber se o seu fundo marinho é de facto rico. Como não sabemos o que lá existe nem se tem valor, “tem de ser feito um estudo e tem de ser feita prospecção e pesquisa”, referiu o investigador. Na sua opinião, o projecto de extensão da plataforma continental portuguesa já abordou isso, “mas de uma forma muito preliminar”, pelo que entende que são precisos “estudos muito mais aprofundados”.

 



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