Francisco Lufinha anunciou o seu mais recente desafio. Ir em kitesurf dos Açores ao continente, em turnos intercalados de 8 horas repartidos com Anke Brandt, também recordista mundial da especialidade, numa travessia superior a 1.500 Km e que demorará de 5 a 10 dias.
Francisco Lufinha

Francisco Lufinha anunciou ontem o seu mais recente desafio no âmbito do projecto «Portugal é Mar», que visa ligar o território português por mar em kitesurf. Segundo referiu, será a “derradeira etapa do projecto” e constituirá uma iniciativa inédita: unir os Açores ao continente em kitesurf, numa distância superior a 1.500 quilómetros, sem paragens, recorrendo a uma estafeta com dois elementos.

Para cumprir este objectivo, o desportista fará equipa com a alemã Anke Brandt que, tal como Francisco Lufinha, já foi recordista mundial da modalidade, quando ligou o Dubai ao Bahrein em 30 horas, numa travessia de 489 quilómetros. Desta vez, os dois recordistas vão unir-se no que será a primeira travessia a dois de uma grande distância em kitesurf, durante a qual cada um deverá permanecer no mar cerca de 8 horas consecutivas até ser rendido pelo parceiro.

A partida de Ponta Delgada está prevista para o início de Setembro e a chegada ao continente para cinco a dez dias depois. Nem o dia de partida nem o de chegada podem ser definidos com rigor devido à incerteza da meteorologia. No caso da chegada a incerteza é maior porque as condições meteorológicas, em especial o vento, podem fazer a diferença entre uma travessia de cinco dias – o mínimo expectável – e dez dias- o máximo previsto.

Pela mesma razão, o local de chegada também é incerto. Norte, centro ou sul do continente, dependerá do vento. O apoio será prestado pela embarcação «Lufinha», que navegará à vela, e por uma equipa de 10 elementos, dois dos quais em terra. Os restantes oito – quatro tripulantes, um médico (cirurgião com desfibrilhador), um fisioterapeuta, um fotógrafo e um responsável pela realização de um vídeo – permanecerão a bordo.

Face ao sistema de estafeta, justificado pela distância em causa, qualquer problema de saúde de um dos desportistas será uma dificuldade. Se tal ocorrer, “será um problema grave, que teremos que resolver”, admitiu Francisco Lufinha durante a sessão de apresentação do projecto. A outra principal dificuldade será a eventual falta de vento. Nesse caso, “teremos que ficar a boiar na prancha, à espera de vento”, referiu o desportista.

A demora provocada pela falta de vento acarreta outra consequência, além do aumento do tempo da travessia: o risco de escassez de alimentos e água. A equipa vai preparada com rações para dez dias, mas se por algum motivo a travessia ultrapassar esse período, foi pensada uma solução. Estará a bordo um stock de enlatados para um mês. Já a água, um bem essencial na viagem, dificilmente escasseará. “Temos a bordo um dessalinizador”, que permitirá converter a água do mar em água potável.

Não está também afastada a possibilidade de uma necessidade de resgatar algum elemento. Conforme comunicou a organização, “em caso de necessidade de salvamento e dada a grande distância de terra, um navio poderá demorar entre um a dois dias a assegurar o resgate”.

Questionado na sessão de apresentação sobre o que esperava desta travessia, Francisco Lufinha admitiu que gostava “de ter baleias a acompanhar a viagem” e que ambos chegassem “inteiros ao fim” do trajecto. O objectivo mais amplo, contudo, é “ligar Portugal, que é 97% de mar, e conseguir mostrar aos portugueses que o nosso mar é grande, atraindo-os para o mar”, referiu.

Em preparação desde 2015, esta travessia é a última do projecto «Portugal é Mar». Até agora, em kitesurf, Francisco Lufinha já ligou Porto a Lagos (564 quilómetros em 29 horas), em 2013, já uniu o ponto mais a sul do território nacional (as Ilhas Selvagens) ao Funchal (306 quilómetros em 12 horas), em 2014, e foi de Lisboa à Madeira (874 quilómetros em 48 horas), fixando um novo recorde mundial, em 2015.

 



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