A facturação da empresa é cada vez mais proveniente de equipamentos offshore - 50% este ano, 60% no próximo ano e 70% em 2020
ASM Industries

Os equipamentos offshore representarão uma parcela cada vez maior da facturação da ASM Industries, que espera receitas de 30 milhões de euros este ano, com uma incorporação de 50% resultante desses equipamentos, 40 milhões de euros em 2019 (com 60% de offshore) e 50 milhões de euros em 2020 (70% dos quais resultantes de produção de equipamentos para offshore), admitiu ao nosso jornal, Adelino Costa Matos, CEO da empresa.

Segundo este responsável, a “ASM Industries tem conseguido superar os desafios no mercado nacional e internacional” das energias renováveis oceânicas em Portugal, designadamente no que respeita à produção de torres, peças de transição e fundações, que corresponde a um mercado de exportação de 39 mil milhões de euros, e de pás, que corresponde a um mercado de exportação estimado em 20 mil milhões de euros, de acordo com dados de roteiro oportunamente apresentado pelo Governo para este segmento do mercado energético.

Adelino Costa Matos considera mesmo que “o nosso país tem grandes condições para ser um player de referência para o mercado nacional, mas principalmente para exportação”. No caso da indústria metalomecânica nacional, onde se insere a ASM Industries, o CEO considera que Portugal apresenta custos e qualidade competitivos para os fornecimentos ao sector da energia eólica offshore.

“Somos um país com tradição na indústria metalomecânica, pois temos profissionais experientes e competentes, temos as infra-estruturas, a tecnologia e o know-how de fabrico, no entanto é necessário investimento, visão e capacidade de criação de estrutura humana e orgânica para um mercado muito exigente”, refere, acrescentando que “com estas condições temos potencial para estar entre os melhores da Europa”.

O mesmo responsável admite igualmente concordar com as metas do Executivo contempladas na Estratégia Industrial para as Energias Renováveis Oceânicas de criar um cluster industrial exportador destas novas tecnologias energéticas limpas com potencial para gerar 254 milhões de euros em investimento, 280 milhões de euros em valor acrescentado bruto, 119 milhões de euros na balança comercial e 1.500 novos empregos. “Concordamos plenamente com a estratégia e julgamos que são atingíveis (as metas), dependendo da abertura e aposta que o próprio Governo tenha para com este sector”, refere o CEO da ASM Industries.

Para Adelino Costa Matos, o principal desafio da indústria metalomecânica nacional vocacionada para as energias renováveis oceânicas é conseguir ter “escala e investimento na modernização das infra-estruturas”, bem como ter formação e investimento nas organizações e recursos humanos. Pela sua parte, o principal objectivo é criar “em Portugal um grupo de metalomecânica no sector offshore que possa competir com grandes empresas europeias, principalmente localizadas na Holanda, na Alemanha e em Espanha”. Quanto à ASM Industries, dados da própria empresa já a referem como uma das dez melhores da Europa na produção de fundações para as energias renováveis offshore.

 

A empresa e a exportação

 

A própria ASM Industries já está, ela própria, especialmente vocacionada para a exportação nesta matéria. Actualmente, 90% da produção de fundações offshore e/ou plataformas para projectos de energia eólica offshore é para exportação. “Estamos a entrar no sector, pelo que os países de destino das exportações serão principalmente os do Mar do Norte: Alemanha, Bélgica, Holanda, Reino Unido e Estados Unidos da América”, referiu-nos Adelino Costa Matos. A empresa, porém, não está presente com equipamento no maior parque eólico offshore do mundo, com 180 turbinas numa área de 145 Km2, recentemente inaugurado no Mar da Irlanda.

No caso dos Estados Unidos, um mercado que considera de “enorme potencial”, confrontado pelo nosso jornal com o interesse manifestado pelo Governador de Nova Iorque, Andrew Cuomo, em estudar os sistemas de energia eólica europeus para implementar as melhores soluções nas águas atlânticas do seu Estado, Adelino Silva Matos admite estar a analisar com interesse o mercado daquele país, “já com contactos institucionais, para exportação de Portugal”.

Igualmente confrontado por nós com o potencial da guerra comercial entre os Estados Unidos e a China para afectar a economia mundial e a actividade da ASM Industries em particular, Adelino Silva Matos limita-se a reconhecer “a influência da China” na sua área de negócio, “principalmente ao nível das torres eólicas onshore, e nesse caso com preços imbatíveis”, admitindo também que “na vertente do offshore é um mercado mais exigente e com maiores restrições ao nível logístico” e que, no geral, “as empresas asiáticas serão sempre sérios concorrentes”.

 

O plano interno

 

No plano interno, a ASM Industries é especialmente reconhecida pela construção dos equipamentos para o projecto Widfloat Atlântico, a instalar em Viana do Castelo. Sem revelar o valor do contrato com a Windplus, promotora e detentora do projecto, apesar da nossa insistência, Adelino Costa Matos referiu-nos que as duas plataformas contratadas à empresa (de um total de três), em produção pela ASM Energia e ASM Marine, serão entregues em Junho do próximo ano. A terceira está a cargo de uma empresa espanhola.

Entretanto, a ASM Offshore, que começará a operar em Março de 2019, com a abertura de uma nova unidade de produção industrial no porto de Aveiro destinada à construção de torres eólicas e fundações para aplicação offshore em série, foi recentemente adquirida em 15% pelo valor de 4,5 milhões de euros por um investidor institucional, que preferiu manter-se anónimo, segundo Adelino Costa Matos.

A nova unidade beneficia da localização estratégica do porto de Aveiro e do “acesso directo a um cais portuário que permite descargas de matérias-primas e cargas de produto acabado”, conforme explica Adelino Costa Matos, será dotada de tecnologia de ponta. “Representa um investimento de 25 milhões de euros, oriundos de um co-financiamento do programa Compete 2020/Portugal 2020/Fundos Europeus Estruturais e de Desenvolvimento da União Europeia” e representará 150 novos postos de trabalho, refere o CEO da empresa.

Entretanto, desde o final de Maio que a empresa tem em funcionamento outra unidade num porto, neste caso, de Setúbal. É uma unidade de fabrico e montagem de fundações offshore de grande porte e representa um investimento de 4 milhões de euros. Tem capacidade para processar cerca de 10.000 toneladas/ano e representou 70 novos postos de trabalho, com perspectiva de produção “sobretudo para Portugal e países como Reino Unido e Alemanha”, referiu-nos Adelino Costa Matos, adiantando que o seu objectivo de facturação para esta unidade é de “cerca de 10 milhões de euros”.

No último ano, a empresa investiu também cinco milhões de euros numa nova linha de produção na sua unidade em Sever do Vouga, “que lhe permitiu aumentar a produção em 40% e criar 30 novos postos de trabalho”, referiu a ASM Industries ao nosso jornal. Desde 2014, esta metalomecânica tem crescido, em média, 20% ao ano e este ano vai atingir os 100%, referem dados da empresa, que admitem uma facturação superior a 13 milhões de euros na produção de torres eólicas em 2016.

Ainda no plano das energias renováveis oceânicas, a ASM Industries também está envolvida no aproveitamento da energia das marés, conforme nos admitiu o seu CEO. “É no entanto um sector que necessita ainda de grandes desenvolvimentos tecnológicos por forma a ser escalável e competitivo”, esclareceu-nos Adelino Costa Matos, admitindo a vocação da empresa nesta área e a expectativa de vir a estar envolvido “em futuros projectos deste segmento”, pois considera que a empresa tem “a capacidade produtiva adequada aos novos desafios”. Admitiu igualmente o envolvimento da empresa no segmento da aquicultura.



Um comentário em “Em 2020, 70% das receitas da ASM Industries serão de equipamentos para offshore”

  1. Manuel diz:

    Bom e continuado trabalho!

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