A Asociación Nacional de Empresas Estibadoras y Consignatarias de Buques (ANESCO), representante dos operadores portuários espanhóis, enviou ontem uma contraproposta aos sindicatos dos estivadores (Coordinadora de Trabajadores del Mar, UGT, CC OO, CIG y CGT) na qual aceita a garantia de emprego reclamada por estes, informava o jornal El País. Propunha no entanto um reajuste prévio da actual oferta de estivadores à medida das necessidades de cada porto, após excluir os elementos abrangidos pelo plano de pré-reformas facilitado pelo Governo.
Segundo o jornal, a contra-proposta da ANESCO refere que “as partes devem acordar outras medidas de carácter extintivo naqueles portos em que, descontados os efectivos que presumivelmente serão abrangidos pelo plano de pré-reformas, continuem a existir excedentes”. A garantia de emprego estaria sujeita também a uma diminuição de 10% dos salários dos efectivos necessários. No caso de serem aceites pelos trabalhadores, as propostas entrariam num novo acordo colectivo negociado entre os sindicatos e a ANESCO no âmbito da reforma do sector aprovada pelo Governo em Maio, refere o jornal.
Dizia também o El País que a ANESCO propõe um calendário para negociar o novo acordo colectivo e que ambas as partes se comprometam a garantir estabilidade e “paz laboral” durante a negociação, que teria a sua conclusão no início de Outubro. “A representação dos trabalhadores deve comprometer-se a desconvocar as greves anunciadas, não realizar novos pré-avisos de greve e evitar situações de ritmo lento junto de empresas do sector”, terá referido a ANESCO, citada pelo jornal.
O jornal informa ainda que esta contraproposta surge no momento em que a APM Terminals, do Grupo Maersk, e os estivadores alcançaram um acordo, à margem da ANESCO. Segundo o El País, citando fontes da empresa, o acordo prevê o fim de todas as paragens de trabalho nos terminais espanhóis da APM Terminals (Algeciras, Barcelona, Valência, Castellón e Gijón) até 30 de Setembro. Um acordo que também terá sido obtido entre a TTI Algeciras, a outra operadora de terminais do porto de Algeciras, e os estivadores locais.
Em resposta à contra-proposta da ANESCO, a Coordinadora de Trabajadores del Mar rejeitou a oferta. Em comunicado, a entidade sindical referiu que “a proposta que os empresários tardaram meses em redigir não abrange a garantia da totalidade do emprego e não traz novidades relativamente aos postulados, já recusados, nas mesas de negociações”. Os sindicatos acusam a ANESCO de inamovibilidade, por vincular a garantia da totalidade do emprego à negociação por portos, e concluem pela falta de interesse da ANESCO em chegar a acordo.
Reconhecendo que grandes grupos que operam em Espanha se demarcaram da posição da ANESCO, “regida por um grupo de empresas que não representa a opinião geral”, e chegaram a acordo com estivadores, oferecendo “uma proposta que permite recuperar a paz social, desejada por ambas partes, e que garante a totalidade do emprego”, os sindicatos consideram que “ainda que a greve prevista continue, não se exercerá sobre as empresas que se comprometam a garantir a totalidade dos postos de trabalho e tenham uma disposição para a negociação real”.
Na Segunda-feira, o El País dava conta do que parecia ser uma brecha na unidade entre os estivadores, com base em dados fornecidos pela Puertos del Estado, a entidade pública responsável pela execução da política portuária do país. Dizia então aquela entidade que quatro empresas trabalharam normalmente na Segunda-feira no porto de Barcelona (Best, Setram, Coma y Ribas e Sammer), apesar da convocatória de greve para esse dia. O jornal referia uma quinta empresa, a Bit, que também terá trabalhado dentro da normalidade no mesmo porto.
Por seu lado, o jornal WorId Maritime News, também de Segunda-feira, referia que as autoridades portuárias de Cartagena, Ferrol-San Cibrao e Marín e Ría de Pontevedra adiantavam que o impacto da greve era mínimo.
De acordo com os sindicatos dos estivadores, nesse dia, a greve, realizada às horas ímpares de trabalho, terá tido uma adesão de 90,16% nos portos espanhóis. No caso de Barcelona, a adesão terá rondado os 53%. Não houve registo de incidentes e foram cumpridos os serviços mínimos decretados pelo Governo.
Entretanto, o ministro do Fomento do Governo de Espanha, Inigo de la Serna, tem recordado as perdas económicas resultantes das greves, previstas para prosseguirem em Junho e no princípio de Julho, se os sindicatos e as entidades patronais não alcançarem um acordo. A maior perda, porém, segundo o governante, é o desvio de tráfego de mercadorias para outros portos. Em mais de duas semanas de greves, segundo o ministro, citado pelo jornal, as perdas provocadas pelas greves terão ascendido a 150 milhões de euros, além do desvio de tráfego para outros destinos.
Inigo de la Serna terá também referido que se quer “contingentar um sistema que deve ser livre”, a propósito da intenção dos sindicatos de incluir controlos no acesso à formação e à selecção do pessoal. O ministro acentuou que há movimentos de navios que se desviaram dos portos espanhóis “para nunca mais voltarem”, admitindo uma perda de empregos associada à carga e descarga da mercadoria correspondente a este tráfego.
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