Surpreendentes dias vivemos, sem dúvida. De súbito, deu-se, finalmente, pela projectada intenção da Câmara Municipal de Lisboa colocar fim aos Brasões florais da Praça do Império e eis que uma muito vasta e comovida onda de protesto se «alevanta», compreensivelmente, contra tal intenção.

Na História há muitos momentos assim, ou seja, momentos em que as mais, aparentemente, inócuas e irrelevantes situações conduzem aos mais terríveis e funestos desastres, como sucedeu com a missiva que, colocada no fim da pilha dados ao Cáiser para ler, assim como uma má ligação telefónica, levando a interpretar erradamente a mensagem a transmitir, estarão entre as razões mais próximas de I Guerra Mundial, não sabemos se perante algo semelhante estaremos agora também.

São assim tão importantes os Brasões Florais da Praça do Império?

O que sabemos é que:

– Não temos, neste momento, uma Armada suficientemente dotada com os meios necessários a uma adequada Defesa do mar sob jurisdição nacional;

– Ou seja, temos uma Armada que já não possui sequer um navio-abastecedor, entretanto abatido ao activo, como desde há anos se fala na necessidade premente de um navio logístico sem que, até hoje, se vislumbrem indícios reais de séria preocupação política com tal situação;

– Tal como, havendo planeamento para a construção de mais seis indispensáveis Navios Patrulha Oceânicos, como consignado, inclusivamente, na Lei de Programação Militar, por superior decisão governamental, tal planeamento encontra-se intempestivamente suspenso, sem mais explicação;

– Mesmo em relação aos navios activos, a falta de cumprimento dos programas de manutenção tem sido tal que, actualmente, torna não apenas difícil determinar com exacto rigor as respectivas consequências como não deixou mesmo de conduzir já à forçada paragem de muitos deles, parte de uma Marinha, de uma Armada, infelizmente, hoje, também sem Arsenal;

– Para além disso, impossível esquecer o regozijo de tantos pelos termos do Tratado Lisboa e a subsequente ratificação com aplauso pela Assembleia da República, com a assinatura do então Presidente, Aníbal Cavaco Silva, que nos retirou a responsabilidade pela gestão dos «recursos vivos» da coluna de água da Zona Económica Exclusiva para, inteiramente, a passar para Bruxelas;

– Assim como a mais recente aquisição de Lanhas Rápidas (na realidade Patrulhas Oceânicos) à Holanda para a Unidade de Controlo Costeiro da GNR, em novo e cada vez mais decisivo passo para a futura constituição de uma verdadeira Guarda Costeira Europeia, onde não faltou sequer a instrução ministrada por oficiais Espanhóis e Italianos, não Portugueses.

Tudo isso sabemos, a tudo isso passivamente assistimos sem particular comoção fosse de quem fosse _ salvo raríssimas e muito honrosas excepções.

«C’est la vie», dir-se-á _ e pensando melhor, talvez devamos concluir também que, na verdade, tudo isso não pode senão empalidecer perante a mais magna e culminante questão dos Brasões Florais da Praça do Império.

Morra Portugal mas, ao menos, perpetue-se a sua memória nos mais memoráveis Brasões Florais da Praça do Império.

Que fique alguma coisa do que fomos _ e se mais não puder ser, que seja, ao menos, os florais Brasões…

Dir-se-á: estamos a falar de símbolos.

Talvez assim seja.

De símbolos percebia Guerra Junqueiro, como grande poeta que foi também, deixando, sobre a projectada mudança da nossa Bandeira Nacional, as seguintes sábias e muito avisadas palavras:

«A Bandeira Nacional é a identidade de uma raça, a alma de um povo, traduzida em cor. O branco simboliza inocência, candura unânime, pureza virgem. No azul há céu e mar, imensidade, bondade infinita, alegria simples. O fundo da alma portuguesa, visto com os olhos, é azul e branco.

D’esse fundo saudoso, de harmonia clara, de lirismo ingénuo, ressalta, estudai-o bem, o brasão magnânimo: em campo de heroísmo… vermelho ardente, sete castelos fortes inexpugnáveis, cinco quinas sagradas e religiosas, e à volta, num abraço bucólico, duas vergônteas de louro e de oliveira. É o escudo marcial e rural de um povo cristão de lavradores, que, semeando, orando e batalhando, organizou a Pátria. A coroa, que foi do escudo o fecho harmonioso, converteu-se há mais de dois séculos em uma nódoa sinistra. Rajadas d’aurora limparam-na ontem para sempre. O nobre estandarte não tem mancha. Glorifiquemos o escudo, coroemo-lo de novo com diadema épico de estrelas: estrelas de sangue e estrelas de oiro, estrelas que cantem e que alumiem. Substitua-se apenas o borrão infame por um círculo de astros imortais.»

Apesar da oposição de Guerra Junqueiro, como de outros eminentes republicanos, como Sampaio Bruno, as cores da Bandeira mudaram.

Porquê?

Porque a implantação da República não foi realizada na prossecução da mais profunda tradição Portuguesa mas, bem pelo contrário, para impor tudo quanto mais se afasta dessa mesma mais profunda tradição _ logo conduzindo, não por acaso, a que muitas dessas mesmas mais eminentes figuras republicanas se afastassem da nova República.

Como relata Alfredo Pimenta, Junqueiro, por exemplo, terá terminado a vida monárquico, de muito se arrependendo de quanto de mais terrível terá dito de D. Carlos, assim como, de muita da inaudita violência anticlerical, procurando, no fim dos dias, uma redemptora reconciliação com a Igreja, enquanto, em plano completamente distinto, sucedia a Sampaio Bruno ser cobardemente sovado, numa esconsa viela do Porto, por serventuários capangas do grande Afonso Costa.

Tempos difíceis _ e sabe-se bem como e onde terminou a I República em que, além de um Afonso Costa, pontificava igualmente um Magalhães Lima que, além de fundador de «O Século», também Grão-Mestre do Grande Oriente Lusitano e defensor extremo do Iberismo onde militaram comumente iludidas ainda tão notáveis figuras como, por exemplo, um Antero de Quental.

A defesa do Iberismo não deixará, na actualidade, de se afigurar estranho e quase incompreensível, porém, à luz da época, tendo sobretudo em atenção a época do «humilhante» «Ultimatum» imposto por Inglaterra a Portugal para fazer vingar as mais desbragadas ambições de um Cecil Rhodes de  implantação de uma faixa Britânica do Cairo ao Cabo, não deixa de ter alguns aspectos quase inteligíveis _ e tanto mais quanto, na realidade, o ideal de Magalhães Lima ia, inclusive, muito para além do Iberismo, visando mesmo uma Federação Latina: «A raça eslava procura absorver o Oriente; a raça germânica pretende dominar militarmente, dando-nos o triste espectáculo da «paz armada» no último quartel do século XIX; a raça anglo-saxónica alarga as suas vistas pelas colónias, ambicionando o domínio colonial do mundo. E a raça latina, que deu à Europa a liberdade e trouxe aos homens a noção de Direito, encontra-se fraca, decadente e desprestigiada. […] Torna-se indispensável e urgente a federação latina, aproximando e federando os países que, como a França, a Itália, a Espanha e Portugal, estão ligados pelas mesmas tradições e pelas mesmas afinidades de raça.»

Numa primeira análise, a intenção até se afigurará louvável, embora uma mente mais avisada, como a de uma Guerra Junqueiro, apesar de ainda então indefectível Republicano, nunca se tenha deixado iludir, como o seu escrito redigido já no longínquo ano de 1893, não deixa dúvidas:

 «[…] Mas, se as duas almas fazem uma única, elas vivem, meus senhores, em corpos separados, em organismos distintos, que a natureza irremediavelmente diferenciou, e que é necessário deixar em absoluta e livre independência, pois que só assim cumprirão com harmonia e nobreza o seu papel e o seu destino.

E este sentimento Português de soberana e irredutível autonomia, sem restrições e sem equívocos, é em mim de tal maneira intransigente e natural, que eu sacrificaria, sendo necessário e podendo, os destinos completos da minha raça à completa independência do meu país.

Unifiquemo-nos em espírito, mas conservemos as fronteiras, tal como estão no nosso território. Só da dualidade sem obstáculos pode nascer a confiança sem limites. Somos irmãos, mas não cabemos juntos na mesma casa.

Viva a Espanha ! Viva Portugal ! Viva a Península !»

Onde o erro, então?…

Como temos defendido, algo a que nem sempre se atende devidamente, é ao facto de Portugal não ser uma nação tão una como habitualmente se afirma mas, bem pelo contrário, toda a sua História se encontra divida entre uma profunda fractura entre uma visão Atlântica, se assim se pode dizer, e uma visão Continental, como perfeitamente patente na Crise 1383-1385, como em 1580, como em 1820, em 1910 e o mesmo em 1974.

A visão Atlântica venceu na Crise 1383-1385 mas, a partir de então, foi a visão Continental, para mal dos nossos pecados, sempre triunfante quanto predominou, tal como hoje ainda se verifica.

Ilusoriamente, crê-se ser quanto mais divide Portugal na actualidade o que vulgarmente se designa como Direita e Esquerda, quando o que divide, de facto, mas muito mais grave e profundamente continua a ser a fractura entre uma visão de Portugal como Nação Atlântica ou Marítima e uma visão de Portugal como Nação Continental _ e se é certo que a Esquerda possui, por congénita e inerente natureza uma visão de Portugal como Nação eminentemente Continental, grande parte de quanto se designa por Direita, não por acaso, não deixa de comungar na mesma errada visão Continental de Portugal.

De facto, se atendermos ao passado do pensamento dito de Direita, mais genuinamente de Direita, se assim podemos dizer, podemos situar as suas raízes num certo anti-Iluminismo, como próprio do pensamento mais Contra-Revolucionário, ou Reaccionário, o que o distinguiria desde a raiz da dita Esquerda.

Todavia, perscrutando mais incisivamente, o que logo se torna igualmente evidente é, por um lado, o mesmo anti-individualismo característico de uma e outra facção, entendendo sempre ambas as facções o individualismo não como doutrina da individualidade mas como mero exercício, ou expressão, do mais puro egotismo, não sem com tal de implicar igualmente uma mesma incompreensão da verdadeira Liberdade enquanto princípio para tudo reduzir a uma mera questão de «liberdades», assim como, por outro, a existência de uma não menor convergência no que respeita à prevalência da Praxis e do Positivismo sobre tudo quanto se situa já em diferente ordem da realidade.

Ainda que a distinção entre Esquerda e Direita seja mais nítida no que respeita ao facto de a primeira manifestar sempre uma tão profunda quanto arraigada crença no dito «Progresso» sobre o qual a segunda não só sempre mostrou a maior suspeita senão mesmo completo desdém em prol da defesa do superior valor da «Tradição», assim como não menos decisiva distinção respeita ao entendimento político do que por «igualdade» deva ser entendido, se apenas «igualdade de oportunidades» ou mesmo «igualdade realizada», se assim se pode dizer, há um fundo comum que realmente impede pensar Portugal como Portugueses, como sucede no presente caso dos Brasões da Praça do Império.

Certo, tendo sido sempre a Esquerda essencialmente Iluminista, Positivista, Marxista, Estruturalista, Neopragmatista e tudo o mais quanto de permeio foi havendo, assim como agora tende naturalmente para o Neoanimismo emergente, não só não tendo aceite nunca a dita Direita o Marxismo como até o tenha abertamente repudiado, como continua manifestamente a repudiar, a distância entre quanto hoje temos como Esquerda e Direita afigura-se mais significativa do que, no que aqui importa, realmente é.

Não sendo este o momento de muito mais aprofundar, se aceitarmos como pensamento culminante dessa dita Direita o Integralismo Lusitano, onde um Alfredo Pimenta não deixava de entender sequer ser sua superior missão vir a ser para Comte o que São Tomaz fora para Aristóteles, facilmente se compreende como foi o Integralismo Lusitano a matriz determinante também do pensamento políticoda doutrina do Estado Novo, salvo algumas pequenas nuances, assim como, no essencial, de grande parte da designada Direita na actualidade, salvo, uma vez mais, outras pequenas nuances, como seja  a plena aceitação do Parlamentarismo e de tudo o mais quanto inerente ao presente entendimento de quanto por Democracia se diz, tal como nem sempre sucedeu no passado.

Em simultâneo, se à Esquerda a doutrina base continua a ser o Marxismo, como quase desde sempre sucedeu, seja na mais dura e extrema versão ou entendido em mais suave modo, também hoje sofre de uma pequena adaptação aos ventos das mais actuais alterações climáticas, seja abandonando o mais radical e extreme anticlericalismo da I República, não pretendendo nem prevendo  já como Afonso Costa acabar com a superstição da religião em duas gerações, assim como aceitando já, com aparente bonomia, as «liberdades burguesas» e a «farsa» do Parlamentarismo, tanto mais quanto, se, por um lado, a queda do Muro de Berlim não deixou de trazer inevitáveis consequências, por outro, sempre dominando ao longo do tempo o Ensino e a chamada Cultura, como ainda hoje domina, muito mais, por agora, não é também necessário.

Com certeza, porque a Esquerda começa a impor as «modernices» do «politicamente correcto», da «política de género» e outros disparates semelhantes de modo bem mais veemente e até mesmo acintoso, alguma mais vincada reacção da dita Direita começa finalmente a surgir mas, no fundo, sem grande afastamento de quanto ocorria já há mais de cem anos quando, na passagem do Séc. XIX para o XX e ao seu ao longo do seu início, muito se discutia se à Escola cumpria realmente a Educação ou apenas a Instrução.

Compreende-se a reacção mas, vendo bem o que está em discussão, o que se percebe igualmente é tudo se resumir, afinal e acima de tudo, a um quase mero problema «Moral», terreno privilegiado da Esquerda por excelência, e pouco mais.

Por outras palavras, como anteriormente se aludia, sem uma mais alta compreensão de quanto verdadeiramente em causa, o que sucede é a Direita, apesar da manifesta oposição, se colocar sempre no mesmo exacto plano da Esquerda, sem capacidade de ascender mais alto e atingir a verdadeira, mas já perdida, tradição de pensamento Português e ser, por consequência, capaz de refutar decisivamente todo o vão discurso da Esquerda, ou seja, capaz de afirmar um verdadeiro discurso da Nação Marítima que somos em detrimento da pequena Nação destroço Continental à deriva em que nos querem transformar, ou em que, pouco a pouco, pela mesma Esquerda, estamos a ser transformados.

A actual discussão do caso dos Brasões da Praça do Império é uma boa ilustração disso mesmo.

Para Esquerda, incapaz de pensar, incapaz de pensar Portugal, muito pragmática e positivamente, não passam de uns meros arranjos florais, ainda por cima, mal cuidados, sem especial interesse nem significado.

Para a dita Direita, pelo contrário, os Brasões, plantados para a Exposição do Mundo Português, representam o passado, um passado grandioso, quando o território nacional se estendia do Continente a Timor, vendo a sua destruição como uma tentativa de igual destruição da memória, da obliteração da própria História de Portugal.

Terão, em si mesmos, nas condições em que encontram, assim tanta importância?

Talvez não.

Em termos de memória e de História, muito mais grave e importante do que a existência dos Brasões Florais na Praça do Império são as interpretações completamente enviesadas imposto pelo ensino oficial e tudo e todos domina, e que não só inteiramente deturpam como acabam mesmo por anular toda a mais verdadeira razão de existência realmente autónoma, realmente independente e livre de Portugal, de forma a preparar também as novas gerações, desde já, para uma passiva aceitação da plena diluição de Portugal, numa mirabolante futura Federação Europeia ou seja lá o que for que vier a ser de equivalente.

Ou seja, é irrelevante a destruição dos Brasões da Praça do Império?

Por si, e apenas por si, talvez não fosse muito grave, não fora, porém, muito para além dos Brasões, estar em causa o próprio Símbolo representado naquela que é chamada Praça do Império e à qual talvez se devesse actualizar a designação.

Se soubermos olhar para a Praça com olhos de ver, com olhos que até uma tão cega mente simbólica como a nossa consegue ver, o que se percebe é que a Praça, como um todo, é profundamente simbólica _ incluindo, ó ironia das ironias, até mesmo o Centro Cultural de Belém que, em tempos, se nos afigurou cousa tão esdrúxula quanto quase sem sentido.

Estávamos errados.

Vejamos, o que é um Símbolo?

Talvez muito errado não seja de definirmos como Símbolo a metade visível de uma realidade de superior ordem, invisível, a ser pensada como unidade possível a realizar.

Talvez por isso já afirmava Aristóteles não haver pensamento sem imagem, o que talvez possamos também traduzir como não ser possível pensamento sem símbolo.

Ou dito talvez de diferente modo, se pensar é sempre pensar a ideia que, pelo próprio pensamento, se cristaliza ou realiza exactamente como imagem ou conceito, não será legítimo entender o Símbolo também como a imagem que, visível, serve como evoação da ideia que, pensada, conceptualizada, se dá cumulativamente como imagem e discurso dessa mesma superior unidade a ser permanentemente pensada?

Olhemos, de novo, mentalmente, para a Praça do Império, traçando uma aristotélica circunferência com centro do centro do jardim, que temos?

Seguindo no sentido directo, temos os Jerónimos, Símbolo em pedra da História de Portugal e dos Descobrimentos; segue-se o casario, o Povo, Símbolo de todos nós e todas as gerações de Portugueses que pensaram e fizeram de Portugal, com arte, engenho, sangue, suor e lágrimas, a singularidade que Portugal é hoje; depois o Mar, na realidade o Rio, mas como se fosse já o Mar, lugar Simbólico da partida das Caravelas, da Expansão, dos Descobrimentos, do abraço ao Mundo, ligando o Ocidente ao Oriente e dando a verdadeira Catolicidade ao Cristianismo; e o Centro Cultural de Belém, arquitectura mais Magrebina do que imediatamente Lusitana, por certo, mas Símbolo, talvez, do primeiro passo na Expansão e início de realização de um possível futuro Quinto-Império, Império do Espírito, não material; e no Centro, na Cruz, os Brasões, não talvez já do Império mas do Mundo Lusíada, dos Povos da Comunidade de Países de Língua Portuguesa, nunca inteiramente realizada mas sempre em realização, assim como lembrando sempre também, por um lado, a possibilidade de haver cisão no Estado sem que tal implique cisão na Pátria, como defendia Orlando Vitorino, como, por outro, pela sua fragilidade, a permanente necessidade de continuado cuidado e atenção de modo a não deixar nunca tão alto ideal possa vez alguma murchar nem, menos ainda, fenecer.

Se estiver certa esta visão, esta interpretação, então não são os Brasões que estão em causa, é o Todo, a Unidade da própria Praça chamada do Império e que, actualizadamente, talvez se devesse chamar Praça do Quinto Império, em evocação do nosso Padre António Vieira, Imperador da nossa Língua, ou, conceda-se, mais terra-a-terra, Praça da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa _ ou continuando a designar-se como Praça do Império, actualizar, mais simplesmente ainda, apenas o seu sentido e significado.

Por outras palavras, o que se deve igualmente compreender é que, a actual Praça do Império, muito mais do que celebrar o passado, deve ser Celebração do Futuro _ assim tenhamos a visão da Nação Marítima que somos e devemos, verdadeiramente, sabermos ser.

Post-Scriptum:

Se relembramos Guerra Junqueiro, quando tanto se fala, actualmente, de Democracia e Liberdade de Expressão, o que se diria das suas palavras escritas em tempo de Monarquia e suposta Ditadura de João Franco:

«Todas as tiranias são ferocidades, e acusam portanto, na máscara do homem, a descendência do monstro.

Há tiranias dominadoras e fulgurantes, de olhos de águia, e tiranias lívidas, oblíquas, de olhar de hiena. Ambas trágicas: um Bonaparte ou um Filipe II.

A tirania do Sr. D. Carlos procede das feras mais obesas: do porco. Sim, nós somos os escravos de um tirano de engorda e de vista baixa.

Que o porco esmague o lodo, é natural. O que é inaudito é que o ventre de um porco esmague uma nação, e dez arrobas de cebo achatem quatro milhões de almas !

Que ignomínia !

Basta. Viva a República, viva Portugal !»

Estava-se em Dezembro de 1906. Por esses e outros mimos, foi Junqueiro julgado e, tendo então como advogado de defesa Afonso Costa, saiu condenado ao pagamento de «cinquenta dias de multa a um escudo por dia e nas custas e selos do processo».

Como seria hoje?…



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