É crucial que se estudem as “políticas fiscais de normalização industrial e regulatória que potenciem uma procura pelos produtos inovadores derivados da bioeconomia azul”, referiu a ministra do Mar na abertura da Biomarine 2018
Biomarine 2018

De acordo com a ministra do Mar, citando dados da OCDE, ontem, no Estoril, na sessão de abertura do Biomarine 2018, o mar, não obstante ser o “novo horizonte económico” com “novas oportunidades para crescer”, tem números que “falam por si”: o sector da bioeconomia azul pode representar quase 3 mil milhões de dólares (cerca de 2,6 mil milhões de euros), com possibilidade de crescimento para 5 mil milhões de dólares (cerca de 4 mil milhões de euros), o que, como considerou Ana Paula Vitorino, significa que é uma mais valia para Portugal acolher este evento internacional que explora todo este tema.

 

Sendo uma prioridade do Ministério do Mar apoiar também o empreendedorismo, Portugal tem disponíveis 600 milhões de euros (distribuídos em três instrumentos financeiros: o Mar 2020, que apoia com 508 milhões de euros, o Fundo Azul, que apoia com 54 milhões de euros, e o EEA Grants com 45 milhões de euros) para este sector.

 

Trata-se de um sector que incide actualmente em várias áreas, nomeadamente a farmacêutica, onde estão a surgir aplicações biotecnológicas para o tratamento de doenças como artrite reumatoide, cancro ou até alzheimer. Ou no sector industrial, que tem usado enzimas na produção de detergentes ou papel, ou no sector energético, na exploração do biocombustível ou biogás através do cultivo de refinação de macro e micro-algas.

 

A ministra do Mar entende como essencial, dada a “falta de histórico de investimento, ciclos de desenvolvimento do produto muito longos e mercados de procura difusos”, que os “sectores público e privado juntem esforços na constituição de mecanismos de financiamento focados no preenchimento destas falhas de mercado”. E garante a necessidade de estudar as “políticas fiscais de normalização industrial e regulatória que potenciem uma procura pelos produtos inovadores derivados da bioeconomia azul”.

 

Ainda assim, Ana Paula Vitorino não deixou de lembrar que, se por um lado, a bioeconomia do mar é positiva, por outro, pode ter um impacto negativo nos activos biológicos por parte da actividade humana. Pelo que “é imperativo assentar o desenvolvimento sustentável numa política marítima integrada que promova a economia circular azul”, cujo desafio se centra em “conseguir construir um modelo económico gerador de riqueza, abundância e bons empregos que em simultâneo não depaupere a sustentabilidade ambiental do ecossistema marinho, crítico para o suporte da vida no nosso planeta, devendo inclusive recuperar ecossistemas em perigo”, afirma. Ideias que serão base do plano de Governo futuro, na prevenção, redução, reutilização, recuperação e reciclagem de materiais e energia, “substituindo o conceito de “fim-de-vida” da economia linear por novos fluxos circulares de reutilização”.

 

No que respeita à presença internacional na conferência, Ilaria Nardello, representando a European Marine Biological Resource Center, que suporta a criação de MBCOI (Marine Bio-Technologies Center of Innovation), destacou a importância da economia para implementar a bioeconomia marinha, principalmente no que respeita à sustentabilidade, crucial nos dias que correm. E na perspectiva de Raul Garcia Brink, membro do conselho responsável pela economia e energias, governo é crucial no desenvolvimento deste sector e, no seu caso, o mesmo assegurará um investimento de 15 milhões de euros para as actividades orientadas para o negócio não só da biotecnologia como da aquacultura.

 

Que ingredientes se priorizam para levar a cabo esta inovação? “Um bom mix no cluster”, começa por referir Angela Schultz-Zehden, Directora da rede Submariner para o crescimento da bioeconomia azul EEIG, da Alemanha. Ter não só o lado mais sistemático como o lado de juntar a massa crítica e as empresas, num projecto que tem sempre de ser considerado a longo prazo – não desistir nos primeiros três anos é essencial. É por isso que para Angela estas são “missões a longo prazo”, nas quais não se deve olhar para os lucros, mas continuar no projecto, pois os lucros virão automaticamente.



Um comentário em “Biotecnologia azul é o futuro”

  1. Teresa Almeida diz:

    Bom dia.

    As referências aos apoios de financiamento do Ministério do Mar são em milhões de euros.

    O Mar 2020 tem disponíveis para apoios 508 Milhões de euros

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