Passado, finalmente, o Verão, entrados em mais fresco dias, tudo parece estar a regressar a uma certa e fatal normalidade que, infelizmente, e bem ao contrário de quanto se faz crer, não augura nada de bom.
Projecto Kraken

Qual a maior capacidade esperada de um político?

A pergunta pode parecer quase retórica uma vez todos sabermos ser a capacidade de previsão a primeira e, talvez mesmo, mais decisiva capacidade de um político, sendo tão evidente a demonstração, eventualmente até por simples redução ao absurdo, porque assim é, que mais não é necessário dizer.

Para que um político seja um bom político, a simples, ou mais complexa, capacidade de previsão, não sendo acompanhada por uma igual capacidade de consequente acção, ou seja, da capacidade de determinar as necessárias decisões em ordem a mitigar os negativos efeitos de um determinado caminho, se assim se pode dizer por facilidade de expressão, ou pelo, contrário, em diferentes circunstâncias, de maximizar e amplificar os seus respectivos e adequados efeitos tendo em vista o atingimento de determinados fins específicos, não basta.

Como é necessário, para que um político não seja apenas um bom político mas um político completo, uma igual consciência e perfeito entendimento do simbolismo do seu acto, ou seja, da consciência e perfeito entendimento de toda a sua acção ser sempre uma representação do Estado, ou seja, do Direito, no seu mais elevado espírito e significado, exacta razão porque já Camões não deixou de advertir e expressar fazerem os fracos Reis fraca a forte gente.

Hoje, sabemos, nos dias de Neo-Pragmatismo Liberal (à americana) em que vivemos, como aqui descrevemos, a maior e única qualidade que se exige a um político é, natural e consequentemente, a dita habilidade, ou seja, como alguém explicaria com mais ciência do que nós, a capacidade de dizer uma coisa e fazer outra, crendo todos sempre no dito sem atenderem nunca ao feito.

Este Verão tivemos os trágicos incêndios que ninguém, por certo, cedo irá conseguir esquecer.

Sabemos não ser muito simpático, nos púdicos tempos que vivemos, recordar tão trágicos, terríveis e mesmo pavorosos momentos, mas, infelizmente, sendo algo semi-anunciado, talvez até mesmo esperado, desde há longos anos, ou seja, depois dos grandes incêndios de 2003 e 2005, quando se percebeu perfeitamente os efeitos das alterações climáticas associadas tanto a um crescente abandono do campo e das actividades agrícolas mais tradicionais, como a um errado ordenamento do território e da dita floresta, bem como a adequada existência de meios e sistemas de prevenção e combate a incêndios florestais, para nos ficarmos por aqui, melhor ilustração da incompletude dos políticos que temos tido, afigura-se difícil de encontrar.

O que aqui nos importa, porém, não é a maior ou menor incompletude dos políticos que temos tido mas o facto de tudo quanto se passou em relação ao problema dos incêndios florestais se estar a passar, mutatis mutandis, exactamente o mesmo em relação o Mar. Ou seja, o desastre está anunciado e a questão é: temos políticos, um político completo que seja, que o compreenda verdadeiramente e saiba actuar consequentemente?

A Senhora Ministra do Mar, sempre que não esquece, nunca deixa de afirmar a sua preocupação com a afirmação da Soberania de Portugal no Mar que está juridicamente sob sua guarda. Perguntamos ao Senhor Ministro da Defesa sobre o plano de evolução dos meios da nossa Marinha, da nossa Armada, e temos a esclarecedora resposta que tivemos aqui, ou seja, que o Senhor Ministro não é «bruxo», e não sendo «bruxo», nada podemos saber sobre o futuro da nossa Marinha ou Armada.

Compreendemos, não sendo «bruxo», não só o Senhor Ministro da Defesa não podia saber se houve roubo ou não em Tancos, não tendo estado lá quando tudo aconteceu, como compreendemos agora também, como profusamente relatado nos meios de comunicação, não saber da confidencialidade dos documentos relativos à adesão à designada Cooperação Estruturada de Defesa da União Europeia.

O tema é verdadeiramente complexo e, precisamente por isso, deveria ter sido tratado com toda seriedade e respeito que um tema como esse merece, merecendo até ser discutido como tudo quanto é verdadeiramente sério nunca é, nos dias de hoje, discutido em Portugal.

Sobre o tema em si, pouco mais adiantaremos aqui mas, em todo o caso, não deixamos de lembrar quanto ficou já aqui escrito sobre algumas possíveis consequências do Brexit em termos geoestratégicos e de Defesa e Segurança, bem como importa não esquecer nunca que, em termos das maiores Marinhas do mundo, se os Estados Unidos dominam e continuarão a dominar, com certeza, tal o avanço, ainda por muitos anos, a China já ultrapassou a Rússia que, por sua vez, continua bem à frente do Reino Unido que continua a ser a mais poderosa frota da Europa Ocidental, seguida pela França, a alguma distância, não deixando o Japão e a Índia de se terem interposto, em termos mundiais, entre ambos.

Sem elaborar muito mais, vendo da Europa à Ásia, sem esquecer a América nem a Oceânia, as principais nações do mundo a reforçar, rápida de determinadamente, as suas forças navais, o que vemos nós acontecer em Portugal?…

Exactamente.

E se falamos de políticos e do Mar, ou seja, se falamos de políticos e do que se entende ser um político completo, devendo representar, dir-se-á mesmo encarnar, mais do que ninguém, nos tempos actuais, essa mesma figura de político completo, o Presidente da República, dito Supremo Magistrado da Nação e efectivo Comandante Supremo das Forças Armadas, e se falamos do Mar, então o podemos esperar é que o Presidente da República, encarnando verdadeiramente a figura de político completo, aja como tal, antes que até o nosso Mar arda também.

Simples ilusão de bem-aventurança de Natal?

Esperamos que não. Esperamos que em Pedrogão, onde o Senhor Presidente da República ira celebrar este ano o Natal, segundo relato dos meios de comunicação, num gesto que não podemos senão, sinceramente, enaltecer, olhando as cinzas da incúria, lembrando o mais longínquo mar, com as saudades do futuro de que falava Pascoaes, se determine a não permitir que o regresso a uma certa normalidade seja um fatal regresso à inevitabilidade por nada de quanto mais importar decidir e realizar não seja, em devido tempo, efectivamente decidido e consequentemente realizado.

Se Natal significa também renascimento …

Bom e Santo Natal para todos.

 



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