Existe um novo projecto de aquacultura nos Açores que pretende ser interligado com as várias indústrias, sendo sustentável
Aquazor

O projecto de aquacultura, interligado com as várias indústrias e aliado às novas tecnologias é o projecto Aquazor – Aquicultura e Biotecnologias Marinhas dos Açores, cujo trabalho experimental começou recentemente, tendo dois anos pela frente para testar a produção de peixes e bivalves, nos Açores.

Com “meios invulgarmente grandes para este tipo de actuação”, refere o Administrador Delegado da Aquazor, Paulo Serra Lopes, começou a fase experimental da aquacultura em offshore. Neste momento, estão a sinalizar as concessões no mar, utilizando quatro bóias de uma tonelada, 150 metros de corrente, entre outras condições que têm de estar reunidas.

Para levar avante os seus projectos, a empresa candidatou 11 projectos a um fundo, que se converteram em oito, dos quais foram apenas aprovados quatro, até agora. Dois deles, de algas, na Ribeira Quente, um no Porto Martim, na Terceira, e outro na Feteira, no Faial, falta aprovar é a Concessão Baía do Filipe na Graciosa. Um deles é maior que a média (tem dois hectares) e envolve diferentes algas. A esperança é que, até ao final do ano, todos os projectos estejam aprovados. Para tal, é necessário ainda aprovação do laboratório, das gaiolas, da maternidade e da extensão da estrutura para poder colocar a gaiola – componentes indispensáveis para avançar o projecto.

Tendo investido mais de 2 milhões de euros, Paulo Serra Lopes afirma: “estamos a pôr na água 2,5 milhões de euros de incerteza, de risco”, explicando que o alto investimento deve-se não só à dimensão do projecto, como ao alto risco que corre. Comparticipado em aproximadamente 60% pelo Governo Regional dos Açores, tem também apoio do programa dos Açores, Inovação em Aquicultura, e do Fundo Azul do Mar 2020.

Mas porque inscreveu já quatro projectos? “Não tenho tempo para daqui a três anos perceber que desta forma não deu e que vamos ter de fazer de outra maneira”, responde Paulo Serra Lopes. E acrescenta, “a nossa maior dúvida, é o mar”. Os dez metros iniciais de qualquer oceano são os mais destrutivos de todos, por isso pretende produzir aquacultura o mais fundo possível. E já teve inclusivamente de baixar 10 metros, dizendo-se preparado para baixar 20, porque, em profundidade, “eliminam-se 80% das causas de perturbação da superfície”.

Para fazer a alimentação dos animais marinhos, nas profundezas, Paulo Serra Lopes, falou do silo de Ração Submersível da empresa Ofiseq – Offshore Fishfarming Equipments, LDA., do Engenheiro António Vieira e que a Aquazor pondera vir a experimentar na sua gaiola. O silo alimenta remotamente todas as gaiolas de uma forma completamente independente e depois volta a afundar ou fica à superfície, conforme o tempo, e tudo com um tipo de “comando” que se pode ir controlando – e esse é o que considera o Administrador o avanço fundamental para as gaiolas de sucesso, que pretende experimentar já para o ano, a par com o modo tradicional.

Uma das coisas que fizeram foi uma escolha criteriosa de espécies. Foram seleccionadas 25, num trabalho feito com a Universidade dos Açores, nomeadamente com a Ana Neto, a professora que mais estudou as populações de algas dos Açores. Porque não escolheram bivalves como mexilhão ou as ostras? Porque são organismos que dependem da produtividade das águas, e águas oligotróficas, com poucos nutrientes, não engordam esse tipo de organismos. Acreditam bastante na chamada aquacultura multitrófica – “criamos vários níveis tróficos de maneira que as espécies se sustentem umas às outras”, como refere o Administrador. Isso gera aquilo a que se chama uma relação de “simbiose”. No Faial, por exemplo, farão uma experiência de algas e ouriços para permitir essa “simbiose”. Aquacultura multitrófica integrada, que é hoje uma necessidade do mundo inteiro: produzir de uma forma sustentável, é o que tencionam fazer.

“Neste momento o desafio mundial é: Go offshore go deep”, refere. A Aquazor persegue este desígnio, pois para produzir tem de se conseguir gerar peixes e bivalves, independentemente da produção de mar. Neste momento, devido à questão dos licenciamentos, só têm explorações offshore em APAs (áreas de produção aquícolas) que tinham sido escolhidas pelas entidades oficiais e já tinham pré-licenciamento, não estando ainda a testar nenhuma área escolhida pela Aquazor.

Este projecto tem outros projectos agregados. Um exemplo é a produção de um composto à base de algas para alimentar os animais, de forma a conseguirem bloquear 98% da emissão de metano (as vacas são uma preocupação sua, pois representam, no mundo inteiro, 25% da emissão de metano, um dos gases de efeito de estufa). Outro exemplo: um projecto de iodo para a saúde humana, dado o défice extremo que hoje há. Só em Portugal, 40% da população vive com esse défice, e por isso pretendem, através de uma alga (que descobriram que concentra bastante teor de iodo), fazer alimentos consumidos diariamente com esse composto. O i-milk e o i-egg, são o exemplo concreto dessa ideia – as vacas comem as algas e produzem leite que já traz, na molécula, esse iodo – iodo orgânico.

Algae4Us é outro projecto associado à Aquazor, da APPACUA – Associação de Promoção dos Produtos de Aquacultura e das Pescas dos Açores, que pretende “potenciar o reconhecimento do benefício das algas e aumentar o seu consumo” – hoje em dia, há cremes à base de algas e há algas para a própria alimentação, bem como juntar os pescadores aos aquacultores para criar meios de promoção, divulgação e de reforço de consumo dos produtos. Vão iniciar já o trabalho de workshops para ensinar a cozinhar algas, cultivar e até apanhar algas selvagens, voltando a trazer ao de cima a indústria do agar, muito tradicional dos Açores.

 

 

 

 

 

 

 



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