Um ano depois do seu nascimento e a meses da sua primeira feira e do seu primeiro congresso, a APORMAR aposta na aproximação entre os marítimos e o mercado de transporte marítimo de carga e passageiros, através de um projecto inovador
APORMAR

À beira de completar um ano, a APORMAR – Agência Portuguesa de Marítimos prepara a sua 1ª Feira e Congresso, a realizar em simultâneo no próximo dia 19 de Outubro, em Lisboa, com o objectivo principal de “promover o emprego a bordo de navios”, explica o seu responsável, Álvaro Sardinha.

Nascida em Agosto de 2016, a partir “da constatação de que há muita falta de informação no mercado sobre o trabalho a bordo de navios”, a APORMAR é um “projecto absolutamente inovador e único, sem paralelo em Portugal”, refere Álvaro Sardinha. “E até à data, julgo que não há nenhum projecto semelhante no estrangeiro”, acrescenta.

Para este empresário, se Portugal quer ter visibilidade no mercado marítimo global, “tem que estar unido, ter qualidade e quantidade”, diz. Havendo qualidade, importa aumentar a quantidade, entende o mesmo responsável, para quem a única forma de a obter “é criarmos um modelo de agregação, juntar todas as pessoas, numa única plataforma”, que é a APORMAR.

Para Álvaro Sardinha, este “é um modelo sustentável”, que se traduz numa plataforma online que aproxima as pessoas que querem trabalhar em navios, empresas de transporte marítimo, instituições de ensino, empresas de recrutamento e clínicas de certificação marítima, entre outras entidades. Sem cobrar nada a ninguém, “nem às pessoas que procuram emprego, nem às empresas que criam emprego”, assegura.

O mesmo responsável admite que a APORMAR “presta um serviço à comunidade” e que, ao fazê-lo, “está a beneficiar alguns interesses e a contribuir para que algumas instituições e empresas desenvolvam o seu negócio”. Pelo que se justifica que as empresas patrocinem a APORMAR, assim contribuindo para manter o projecto e apoiar a economia do mar.

Álvaro Sardinha reconhece que a APORMAR faz um trabalho de captação de novas pessoas interessadas em “entrar no mercado de trabalho marítimo”, onde existe escassez de recursos humanos, mas é claro quando esclarece que “não vendemos cabeças” nem “concorremos com ninguém, nem com empresas de navios, nem de recrutamento”. “O mercado reconhece o valor do que estamos a fazer e decide apoiar o projecto”, patrocinando-o. Mas admite que a novidade do projecto, pela inovação que representa, ainda gera alguma incompreensão no mercado.

 

Feira e congresso

 

A feira e o congresso constituirão um passo importante para desmistificar o papel da APORMAR no mercado. “Sendo um evento de carácter internacional, começámos a prepará-lo com grande antecedência, em Janeiro, para o promover de forma profissional”, nota Álvaro Sardinha. Segundo referiu, 80% dos expositores da feira são estrangeiros, “grandes companhias internacionais”, e 20% nacionais.

Conforme explica o mesmo responsável, “esta será uma feira de emprego, na qual vamos juntar as pessoas que querem trabalhar em navios e as empresas que as querem contratar” e como as grandes empresas de navegação, quer de transporte de mercadoria, quer de passageiros, são estrangeiras, isso explica a sua predominância entre os expositores.

“Eles têm fortes necessidades de recursos humanos e vão estar aqui para receber currículos e fechar contratos”, refere Álvaro Sardinha. Até ao final do mês, o responsável espera ter preenchidas todas as vagas para expositores (ainda existem seis). Quanto aos visitantes/candidatos já inscritos (vide www.TrabalharNumNavio.pt), distribuem-se principalmente entre portugueses e brasileiros, com alguns espanhóis incluídos.

A presença de muitos portugueses entre os visitantes/candidatos inscritos satisfaz Álvaro Sardinha. “A APORMAR nasceu para servir, fundamentalmente, os portugueses e as pessoas que estão no mercado europeu” e também apoiará a inserção no mercado de trabalho de qualquer estrangeiro que resida em Portugal. “Mas nascemos para o mercado global, porque o mercado nacional para o sector marítimo é muito reduzido”, sublinhando que “não temos sequer uma companhia de cruzeiros oceânicos”.

Já quanto ao congresso, “vai ser um espaço de encontro, troca de ideias e esclarecimento”, refere o mesmo responsável. A informação a partilhar será útil para os candidatos a empregos a bordo de navios. Um universo que considera importante para o país. “Se queremos tornar Portugal uma nação marítima, temos que investir nas pessoas, que vão ser os futuros empresários, talvez armadores”, refere.

E esclarece que “neste congresso vamos promover um conjunto de apresentações técnicas para o sector do trabalho marítimo, na área do Direito, do mercado de trabalho, do recrutamento; vamos ter testemunhos de pessoas que já trabalham em navios e que vão partilhar as suas experiências; e vamos ter algum debate na área da certificação e qualificação marítima com alguns parceiros”.

 

Cruzeiros com futuro

 

Por falar em pessoas, Álvaro Sardinha entende que os candidatos nacionais a vagas no transporte marítimo “têm boas competências técnicas, mas algumas dificuldades nas competências sociais”, ou seja, na componente comunicacional. “Não sabem fazer um bom CV, uma boa carta de apresentação ou preparar bem uma entrevista de emprego”. E isso “coloca problemas ao recrutador, que não consegue encontrar valor no CV, mesmo que o candidato o tenha”.

Embora considere que algumas instituições de ensino já tenham gabinetes de apoio, “que ajudam os candidatos a venderem as suas competências”, admite que outras “não têm nada”, acabando esse trabalho a ser realizado posteriormente. Álvaro Sardinha acha que há muito trabalho a fazer nesse aspecto.

E quais são os profissionais marítimos mais desejados? Por nacionalidade, o fundador da APORMAR considera que os portugueses são altamente respeitados. “O mercado gosta dos nossos profissionais, temos boa imagem, formamos bem as pessoas”, além de que, na sua opinião, o português tem o perfil que se adapta bem ao mar, tem essa vocação, temos um pouco de sal nas veias”, refere.

No plano económico, com o crescimento da indústria dos cruzeiros “a um ritmo de 8% ao ano nos últimos oito anos”, refere o mesmo responsável, a profissão de marítimo neste sector constitui uma oportunidade com futuro, até porque, “de acordo com vários estudos, o seu potencial de crescimento é por décadas”. Com um planeta maioritariamente composto por mar, numa indústria que nasceu nos anos 70 do século passado, “ainda há muitos destinos por descobrir”.

Álvaro Sardinha nota a esse propósito que “até 2024 estão encomendados 68 novos navios de cruzeiros, para várias companhias, o que significa mais de 100 mil pessoas necessárias ao sector”. E recorda o projecto de investimento da MSC Cruzeiros de 9 mil milhões de euros a sete anos, que significa 11 novos navios e uma necessidade de 30 mil pessoas. Ou a Carnival, que tem mais de 100 navios e emprega mais de 100 mil pessoas.

Já o transporte marítimo de mercadorias “está estagnado”, na sequência da crise global, que “arrefeceu a economia e o comércio”. No entanto, neste segmento, apesar da estagnação, existe um problema. Face à saída de profissionais das áreas de convés (pilotos, comandantes, marinheiros) e máquinas (engenheiros, canalizadores, electricistas), até porque as categorias de hotelaria e turismo não fazem sentido neste segmento, seria de esperar uma compensação de pessoal mais jovem para ocupar as posições deixadas vagas.

Mas “a dificuldade das instituições de ensino em captar candidatos e de os colocar no mercado depois de formados” cria um vazio que parece não estar a ser preenchido. E em Portugal “temos poucas instituições a formar para convés e máquinas, com muitas a formar para hotelaria e turismo”, refere Álvaro Sardinha. E aí, a APORMAR pode ter uma palavra a dizer, fazendo um trabalho de captação de novos alunos para essas áreas.

Em termos gerais, segundo os dados da APORMAR, esta diferença de procura a favor do segmento dos cruzeiros reflecte-se nas inscrições na sua plataforma. Enquanto as categorias de convés e máquinas correspondem, cada uma, a 15% de inscrições, as categorias de hotelaria (restauração, cozinha, camareiros, empregados de mesa, entre outros) e de turismo (venda de excursões, guias intérpretes, animadores, directores de cruzeiros, entre outros) correspondem a 40% e 30%, respectivamente.

De acordo com Álvaro Sardinha, “estes números estão alinhados com os padrões de distribuição de emprego num cruzeiro” e com a própria natureza dos segmentos em causa.

 



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