Investigadores concluem que mesmo as águas fora de jurisdição nacional têm um papel crucial no desenvolvimento e subsistência das comunidades costeiras, especialmente as dos países em vias de desenvolvimento.
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O alto mar é crucial. Um estudo recente do Centro Nacional de Oceanografia do Reino Unido, tendo-se concentrado em áreas-chave do Oceano Índico, da Baía de Bengala e do Pacífico, concluiu que estas deveriam ser designadas Áreas Marinhas Protegidas (AMP) para salvaguardar a vida das comunidades costeiras, agora mais vulneráveis.
 
São afectadas, principalmente, as comunidades dos Países Menos Desenvolvidos, altamente dependentes das tais “áreas-chave” de alto mar. Segundo os investigadores, que estudaram a conectividade ecológica entre as áreas que estão para além da jurisdição nacional e as águas costeiras, apesar de grande parte serem águas internacionais sem governo, precisam de cuidado pois são relevantes para a subsistência das comunidades.
 
“A ciência é clara. Estas áreas de alto mar afectam directamente a vida de milhões de mulheres, crianças e homens que vivem em países costeiros em desenvolvimento. Qualquer tratado que rege águas internacionais deve priorizar as necessidades das pessoas vulneráveis, bem como o significado ecológico e biológico ao designar uma área de protecção oceânica. Qualquer actividade que possa afectar as áreas costeiras por meio da circulação oceânica e da conectividade de migração deve receber especial protecção e estar sujeita a avaliações de impacto ambiental”, referiu Essam Yassin Mohammed, Coordenador de economia azul do IIED e um dos autores do relatório.


Muitas áreas em alto mar já experimentam os efeitos negativos das alterações climáticas, o que afecta as espécies. Agora, conclui-se igualmente que afecta bastante a costa. Segundo os investigadores, as costas de Kirabati, Libéria, Somália e Tanzânia são as zonas de países em desenvolvimento mais conectadas a áreas além da jurisdição nacional.

A conectividade ecológica entre as duas águas – as de alto mar e as costeiras – sucede de duas formas: a que é impulsionada pela circulação de passageiros e a migratória. Uma das variáveis é, por exemplo, a variabilidade das correntes oceânicas, responsável pela propagação das larvas de inúmeras espécies. Na forma migratória: numerosas espécies migratórias, importantes para a conservação, incluindo peixes como o atum, percorrem longas distâncias através de águas de várias jurisdições. 
 
“Quando o mar alto é visto de uma perspectiva costeira, é frequentemente considerado como remoto e inconsequente para as comunidades costeiras cuja vida depende dos recursos marinhos vivos. No entanto, nada pode estar mais longe da verdade. Evidências científicas crescentes apontam para uma forte conectividade ecológica entre o alto mar e as zonas costeiras. Assim, quando as áreas marinhas protegidas são propostas no alto mar, as suas localizações devem ser escolhidas não apenas para proteger a biodiversidade dentro dessas áreas, mas também para salvaguardar os interesses das comunidades costeiras”, explicou Ekaterina Popova, Cientista Sénior de Pesquisa, Modelagem de Sistemas Marítimos da NOC, líder da pesquisa.



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