Encurtar a distância entre o laboratório e o mercado _ uma possível chave para a inovação do futuro

A sustentabilidade do modelo económico da União Europeia obriga-nos a olhar para lá do horizonte. Façamo-lo de forma inteligente, aproveitando recursos naturais, medindo e salvaguardando os impactos do crescimento nos equilíbrios ecológicos. E sejamos inclusivos, distribuindo os benefícios e gerando oportunidades de emprego. A estratégia da Comissão Europeia “Crescimento Azul: oportunidades para um crescimento marinho e marítimo sustentável” estima que o impacto na economia possa levar à criação de 7 milhões de empregos até ao ano 2020, e a um valor acrescentado bruto de 500 mil milhões de euros anuais Temos, portanto, uma oportunidade de promover a sustentabilidade, ao mesmo tempo que geramos oportunidades económicas para todos.

A área da investigação está cada vez mais ligada à área da inovação. Uma sem a outra não fazem sentido na sociedade dos dias de hoje. Encurtar a distância entre o laboratório e o mercado, e encontrar soluções para os desafios da sociedade, devem ser as linhas orientadoras de todas as políticas públicas que visam o crescimento, seja na área da saúde, demografia, alimentação, energia, transportes, ambiente ou segurança.

A “Economia Verde” é hoje, felizmente, cada vez mais uma constante das políticas públicas Europeias. A “Economia Azul” significa o futuro. É dos mares e oceanos que se poderá partir para uma nova dimensão de tecnologias e recursos que sejam capazes de resolver problemas ambientais ao mesmo tempo que criam novas oportunidades de negócio.

A União Europeia dispõe do maior território marítimo do mundo – a Zona Económica Exclusiva dos seus Estados membros cobre 25 milhões de quilómetros quadrados. No entanto, cerca 30% dos fundos marinhos Europeus ainda não foram estudados. Deste modo torna-se urgente intensificar o trabalho de investigação. Temos que disponibilizar aos industriais, aos investigadores e às autoridades públicas, os dados de que precisam para desenvolver novos produtos e serviços Os ventos variam, as correntes são sazonais, as espécies migratórias, as rotas de navegação internacionais. Cada mar, cada oceano, são realidades distintas, embora interligadas. O seu estudo deve ter abordagens diferenciadas e específicas, em função de fatores climáticos, oceanográficos, económicos ou sociais. Do Adriático ao Jónico, do Mediterrâneo ou do Mar do Norte, temos que compreender a realidade e a especificidade própria de cada área.

O ordenamento do espaço marítimo é também fundamental. Há que saber os limites das áreas protegidas, das explorações de aquacultura, dos pesqueiros, onde se instalam as estruturas eólicas ou outras fontes de energia renovável, por onde passam as rotas dos transportes marítimos. A previsibilidade incentiva o investimento, reduz os conflitos, protege o ambiente, reforça a coordenação e a cooperação. A vigilância marítima, a “Biotecnologia Azul” ou a exploração mineira dos fundos marinhos, fazem igualmente parte desta estratégia da União Europeia. Mas existe um setor chamado Turismo que, na sua vertente costeira e marítima, representa já hoje 3,2 milhões de empregos e gera 183 mil milhões de euros de receitas na Europa comunitária, representando mais de um terço da Economia do Mar, o que é particularmente relevante para um País como Portugal.

A 8 de Maio de 2014, a Comissão Europeia anunciou a chamada “Blue Innovation Communication”, de que vale a pena destacar algumas medidas concretas. Desde logo, a preparação de um mapa digital da totalidade do fundo dos mares europeus, facilitando o acesso aos dados marítimos. Outra importante iniciativa é o estabelecimento de uma plataforma de intercâmbio de informação em linha, na qual os investigadores ficam a conhecer as oportunidades que lhes são oferecidas pelo Programa Horizonte 2020 ou por programas de financiamento dos Estados Membros.

A plataforma permitirá ainda conhecer descobertas científicas que possam levar ao desenvolvimento de novos produtos e serviços na Economia Azul. Finalmente, o estabelecimento de um “Blue Economy Business and Science Forum”, que junte o sector privado à comunidade científica e às ONG’s, num diálogo e numa visão comuns sobre o futuro da Economia Azul.

A Aliança de Investigação sobre o Oceano Atlântico entre a União Europeia, os Estados Unidos e o Canadá, está no coração da cooperação internacional, complementada pelos compromissos assumidos com a assinatura da Declaração de Galway. Investir na Investigação e na Inovação na Economia Azul e nas tecnologias marinhas, são objetivos estratégicos e centrais do Horizonte 2020, o maior programa de sempre do género na União Europeia, dispondo de cerca 80 mil milhões de euros para financiamento no período de 2014 a 2020, a que se somará o investimento privado mobilizado por este montante.

No âmbito do Horizonte 2020 os investigadores podem contar com a “Blue Growth Focus Area” que, apenas nos dois primeiros anos contou com 145 milhões de Euros. Estamos agora a preparar o Programa de Trabalho para os anos 2016 e 2017 onde continuaremos o trabalho de trazer estes temas para o centro da agenda, procurando uma aproximação crescente entre a investigação marinha e a criação de novos mercados e oportunidades económicas.

Estas e outras iniciativas podem de facto levar-nos para além do horizonte, para uma resposta política que alie a sustentabilidade ao crescimento económico. Para tal, o conhecimento, a inovação e a investigação são essenciais. Precisamos de políticas públicas em tom de azul.



Um comentário em “A investigação e a inovação em tom de azul”

  1. António Marques diz:

    Porque não aproveitar, o projecto “Porbio” que me proponho desenvolver e que tem a grande valência de ligar a economia VERDE com a economia AZUL?

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