Mecanismo SME concede 50 nil euros a projecto BMX-11
BioMimetx

A BioMimetx foi contemplada recentemente com 50 mil euros para financiamento do projecto BMX-11, um aditivo para tintas marítimas destinado a combater a incrustação de organismos em superfícies na água, no âmbito do instrumento Pequenas e Médias Empresas do Programa-Quadro Horizonte 2020.

Paralelamente, a empresa recebeu o Selo de Excelência, um rótulo de qualidade atribuído pela União Europeia (UE) “a projectos promissores apresentados no âmbito do Programa-Quadro Horizonte 2020, que não podiam garantir o financiamento devido a limitações orçamentais”, mas bem classificados na avaliação independente que as instituições europeias conduzem anualmente no contexto deste programa, conforme explicava a Comissão Europeia (CE) em Outubro de 2015.

Para Gonçalo Costa, co-fundador da BioMimetx, “como a taxa de aprovação deste instrumento foi de 7%, este ano, e é difícil de obter, a atribuição deste financiamento significa que a CE olha para o nosso plano de negócios com muito bons olhos”. De acordo com a CE, as empresas beneficiadas com este financiamento são as que se encontram na Fase 1, ou seja, “uma etapa que privilegia estudos de viabilidade de empresas inovadoras que pretendam transpor as suas ideias disruptivas do laboratório para o mercado”.

De acordo com o mesmo responsável, nesta fase, além deste montante, a empresa já captou 1,6 milhões de euros de investimento, por via de mecanismos de capital de risco, repartido entre a Caixa Capital (800 mil euros), a Inter Capital (300 mil euros) e a Teak Capital (500 mil euros), que se tornaram sócios da BioMimetx.

Segundo nos explicou, a empresa também já se candidatou ao instrumento Fast Track Innovation, também no âmbito do Horizonte 2020, “com parceiros italianos e suecos”, para levar este projecto ao mercado, numa rede europeia. “E não afastamos a possibilidade de concorrer a mecanismos de financiamento de I&D do Portugal 2020”, embora neste momento a aposta seja no Horizonte 2020, reconhece.

 

O BMX-11

 

O BMX-11 é um produto inovador e, como o nosso jornal referia em Maio de 2015, uma solução “mais barata e amiga do ambiente (biodegradável e não tóxica)”, que responde a necessidades dos produtores de tintas marítimas e dos consumidores (estaleiros navais, donos de embarcações e empresas que operam com estruturas offshore. Ou, como referia a CE, “um aditivo anti-vegetativo para tintas marinhas, inspirado na natureza e na engenharia industrial”.

Ao combater a adesão de organismos a superfícies em água, como por exemplo os navios de mercadorias, as embarcações de recreio ou as plataformas offshore, que lhes acrescenta atrito, peso e, consequentemente, consumo de combustível, o produto favorece a poupança e o ambiente.

Como então nos referia Cristina Simões, igualmente associada ao projecto, “estima-se que a bio-incrustação provoque um consumo adicional anual de combustível na ordem dos 100 milhões de toneladas, que se traduz num aumento da despesa anual em 51 milhões de euros e 3,7 mil milhões de euros em custos de manutenção por ano”.

A disseminação de espécies invasoras incrustantes, como então escrevemos, também representa uma preocupação à escala mundial, pois ameaça os ecossistemas marinhos.

Embora tenha surgido no âmbito da investigação farmacêutica, fruto de uma colaboração entre o Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária e da Universidade de Lisboa, o BMX-11 resultou de uma aposta na exploração da tecnologia de combate à bio-incrustação marinha porque tal significava condições mais rápidas de penetração no mercado.

Como nos referiu Gonçalo Costa, a escolha pelo combate à bio-incrustação marinha, no entanto, não exclui a possibilidade de exploração de outras áreas de negócio, como a veterinária, a farmacêutica ou a agricultura, “na sequência do desenvolvimento deste produto”.

Neste momento, em Fase 1 para financiamento pelo citado mecanismo do Horizonte 2020, o BMX-11 “está em desenvolvimento”, explicou-nos Gonçalo Costa. “Estamos em fase de scale-up do produto, ou seja, de mostrar que que é possível produzi-lo numa escala industrial e que tem rentabilidade comercial, o que nem sempre acontece nestes casos”, refere o mesmo responsável.

“Começámos num laboratório e já conseguimos produzir 200 litros; estamos a estudar a produção em mil litros e esses já mostrarão que o projecto é escalável a nível industrial, é a demonstração disso”, esclareceu Gonçalo Costa.

 

Certificação e mercados

 

Seguindo a estratégia delineada até aqui, a entrada no mercado deverá fazer-se nos Estados Unidos, o que implica certificar o produto, primeiro naquele país e só depois na Europa. “Queremos certificá-lo pela United States Environmental Protection Agency (USEPA), para o podermos comercializar lá”, confirma o co-fundador da BioMimetx.

A justificação é simples. “A certificação é mais demorada e dispendiosa na Europa, que está a reformular os critérios de exigência; nos Estados Unidos, o processo é mais rápido, menos burocrático e, por consequência, também mais barato”, refere aquele responsável.

Alem disso, nos Estados Unidos, o produto é considerado um bio-químico, enquanto na Europa é um químico, pelo que os requisitos de certificação europeus são mais exigentes, explica Gonçalo Costa. Se obtiver a certificação nos Estados Unidos, o produto chegará à Europa com capitalização (resultante de vendas no mercado norte-americano) e uma credibilidade acrescida (por já ter sido aprovado noutro país).

“Se tudo correr como previsto, em 2018 entramos no mercado americano”, antecipa o responsável. O objectivo é penetrar inicialmente no mercado das tintas para embarcações de recreio e lazer, “que requer pinturas de embarcações, normalmente, uma vez por ano”, explica Gonçalo Costa. “E o mercado das embarcações de lazer norte-americano é muito interessante, nomeadamente na Carolina do Norte, Florida, Califórnia e Estado de Washington”, remata.

Há outro mercado, o das tintas para navios de maior porte, como os navios de carga, os petroleiros e os navios militares, por exemplo, que requerem uma pintura de três em três anos. Se o produto passar no “teste” de eficácia dos navios de recreio e lazer, durante três anos, ultrapassando a necessidade de pintura anual, estará apto para outro tipo de navios.

De acordo com Gonçalo Costa, “o mercado alvo, se considerarmos o valor dos produtos que hoje são usados na pintura dos cascos, como o cobre, que é vendido como aditivo para tintas marítimas, tem um valor global de 3,5 mil milhões de euros”. Não é o mesmo valor do que o mercado veterinário ou farmacêutico, “mas é um valor muito interessante”, refere aquele responsável.

Aos seus potenciais clientes, os produtores de tintas marítimas, Gonçalo Costa pode antecipar “uma margem acrescida significativa de valor e financeira” na comercialização de tintas com o seu produto. Além de ecológica, está em causa uma questão de eficácia. “As pessoas não se importam de pagar o mesmo, se for ecológica, mas se for pior do que outras, já importam”, refere.

Neste momento, a empresa trabalha com um pequeno produtor de tintas marítimas, mas o objectivo é vender para os grandes produtores, que comercializam as tintas quer nos Estados Unidos como noutros locais, à escala global. “E depois existem pequenos produtores que actuam localmente”, explica. Recorda no entanto, que embora não importe o local da produção, já a comercialização do produto só pode fazer-se onde esteja certificado.

 

Um percurso

 

Para chegar ao patamar em que se encontra, a BioMimetx percorreu um caminho de pesquisa, prémios, candidaturas e opções pessoais relevantes. No seu currículo está o prémio Novo Banco Inovação na categoria de Recursos Naturais e Ambiente e a selecção pelo COHiTEC, que lhe permitiu alavancar o projecto e a empresa.

Depois, foi efectuada uma negociação com a Universidade para o licenciamento da tecnologia, que hoje é detida pela empresa, de acordo com Gonçalo Costa. O responsável acrescenta que neste trajecto, foi determinante o apoio das instituições.

“Foi na Universidade de Lisboa que se fez o primeiro aluguer de laboratório, que foi tratada escalabilidade do projecto, que chegámos aos 200 litros de produção, que compreendemos os passos para a certificação e que foram feitos os primeiros testes em ambiente real”, recorda.

Em termos de recursos humanos, nota que a empresa tem três fundadores, dois dos quais trabalham em tempo integral, com sacrifício pessoal da carreira académica, de que abdicaram. Em laboratório trabalham cinco pessoas, entre quadros da empresa e estudantes de mestrado.



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