Há dias Elon Musk anunciou o protótipo do seu novo carro eléctrico o Model 3 da Tesla. Horas depois a lista de espera ultrapassava as 300.000 unidades.

Para se ter uma ideia do significado deste número basta dizer que no ano passado o número total de carros eléctricos produzido pela Tesla foi inferior a 50.000. Na apresentação Elon referiu que “in order to produce a half million cars per year…we would basically need to absorb the entire world’s lithium-ion production”. Para alimentar a sua fábrica de carros eléctricos a Tesla está a construir uma mega-fábrica de baterias de litium no Nevada que produzirá o maior número de baterias de litium de todo o mundo, e para isso precisa de toneladas desse elemento. Elon Musk não é o único na corrida. A Faraday Future, do milionário chinês Jia Yueting está a construir um carro eléctrico e a Google, através da sua holding Alphabet, já anda a testar um carro eléctrico que dispensa o condutor. Todos se posicionam em obter a maior cota de mercado e os melhores engenheiros, mas todos se deparam em obter o elemento chave, o litium, sem o qual, para já, os carros eléctricos não funcionam. Até a Goldman Sachs já lhe chama a gasolina da nossa era e não admira que o litium seja a única matéria-prima que há vários anos se tem valorizado, em contra-corrente com todas as outras matérias-primas. Só para o sector dos carros eléctricos este banco prevê por cada 1% de aumento corresponderá uma procura de 70.000 toneladas de litium ano.

Em Março de 2010, a declaração do ministro da Coreia do Sul ao Financial Times de que em 2015 pretendia comercializar litium extraído da água do mar mais pareceu uma declaração do domínio da ficção científica do que propriamente uma realidade. Durante décadas cientistas japoneses tentavam extrair litium da água do mar a uma escala que pudesse ser comercializado mas esbarravam com a baixa concentração deste elemento nas águas dos oceanos, o que elevava de tal maneira os custos que a extração do litium por evaporação nos lagos salgados da Argentina, Chile e Bolívia se mantinha e mantém imbatível pois até agora não existe nenhuma tecnologia que consiga competir com o processo natural de evaporação apesar de demorar entre 10 a 12 meses.

Ainda em 2010, o então administrador da Renault e Nissan via que o carro eléctrico do futuro seria movido a baterias de iões de litium tal como já estava a ser utilizado nas baterias dos telemóveis e laptops. Mas para alimentar esta nova indústria tecnológica era necessário que o mundo estivesse apto para produzir em quantidades suficientes este elemento e daí a declaração do ministro coreano: “Many countries just do not look out to sea from the shore as it needs such high technology”.

Em Junho de 2015, a revista do MIT Technology publicou um estudo, efectuado por cientistas japoneses da agência de energia atómica, descrevendo um método de diálise que permite processar facilmente a extração de grandes quantidades de litium da água do mar e esperam que daqui a cinco anos possam estar a comercializá-lo pois segundo Hoshino, um dos investigadores, o método “shows good energy efficiency and is easily scalable”. O trabalho de Hoshino junta-se à longa lista de estudos em extrair litium dos oceanos mas se o seu método for eficiente e económico pode transformar o mercado destas novas tecnologias. O estudo dos cientistas japoneses não é o único na descoberta de um método para extrair litium dos oceanos. Em Abril de 2015, a American Chemical Society publicou um estudo onde revela que nos organismos marinhos a concentração de litium é muito superior aos dos organismos terrestres e que por um complexo processo electroquímico conseguem extrair em poucas horas e com grande eficiência o litium dos organismos marinhos como revela o gráfico.

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Se a descoberta de manganês no fundo do mar, por um navio oceânico britânico, remonta a 1872, o interesse em extrair os valiosos minerais dos oceanos começou a despertar em meados do século passado.  Para os cientistas, todos os elementos da Tabela Periódica podem-se encontrar nos fundos marinhos. É altura de sabermos explorar esta enorme fonte de riqueza.

 

 



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