Um novo projecto, denominado Ctomentosum, foi contemplado com 8.500 euros para concluir as conclusões avançadas pelo projecto AlgaeCoat sobre solução à base de algas que prolonga a conservação das maçãs embaladas e fatiadas
Expedição Five Deeps

Foi contemplado com uma Bolsa de Ignição INOV C 2020 no valor de 8.500 euros um projecto denominado «Ctomentosum», que é uma sequência do projecto «AlgaeCoat», originalmente concebido pelo Centro de Ciências do Mar e do Ambiente do Instituto Politécnico de Leiria (Mare-IPL) e a empresa hortofrutícola Campotec IN, de Torres Vedras, para desenvolver um revestimento de origem marinha capaz de prolongar o período de conservação da maçã fatiada.

O «Ctomentosum», um dos 15 candidatos contemplados com esta bolsa, visa determinar o tempo de prateleira do extracto de alga (codium tomentosum), que é o ingrediente chave do revestimento, e pesquisar “a aplicabilidade de um processo de desidratação mais económico que contribua para a competitividade do extracto”, explicou-nos Susana Silva, investigadora coordenadora do projecto.

Segundo nos explicou a investigadora, “o revestimento comestível à base de extractos de algas surgiu no âmbito de um vale IDT, no qual o IPL auxiliou a Campotec na busca de uma solução de origem natural para extensão do tempo de prateleira de maçã Fuji minimamente processada”, em 2012. Nesse contexto, “foi patenteada uma formulação à base de extractos funcionais de macroalgas comestíveis da Costa de Peniche, cuja acção foi validada à escala laboratorial”. A patente nacional é detida, em conjunto, pelo IPL e pela Campotec.

Posteriormente, “a validação do processo de extracção da macroalga e da funcionalidade do revestimento à escala piloto foram executados através do projecto «AlgaeCoat» (demonstrador em co-promoção, entre o IPL e a Campotec, que foi executado entre 2016 e 2017)”, esclareceu-nos Susana Silva. Uma validação apoiada pelo COMPETE 2020, no âmbito do Sistema de Incentivos à I&DT na vertente de Co-promoção, com um investimento 260 mil euros, do qual resultou um incentivo FEDER de 172 mil euros.

Dessa validação, validada ao mercado, “alguns desafios ficaram por ultrapassar”, referiu-nos Susana Silva, incluindo a determinação do tempo de prateleira do extracto, a pesquisa da aplicabilidade de um processo competitivo de desidratação e a “elucidação da composição e mecanismo de acção do extracto, passo essencial para o pedido da inclusão deste na lista Europeia de aditivos alimentares”.

Se os dois primeiros desafios estão a ter resposta com o projecto «Ctomentosum», já o terceiro está a cargo da bolseira Ana Augusto, “no âmbito do seu plano de doutoramento financiado pela Fundação para Ciência e a Tecnologia (FCT) e numa co-orientação Universidade de Reading, Mare/IPL e Centro para o Desenvolvimento Rápido e Sustentável do Produto do IPL”, referiu-nos Susana Silva.

“A aplicação de revestimentos de conservação comestíveis, desenvolvidos a partir de compostos de origem natural, sustentáveis e eficazes constituem uma enorme vantagem competitiva para produtores de produtos hortofrutícolas que, desta forma, conseguem manter inalteradas as características dos produtos, minimamente processados, como é exemplo a maçã que, quando cortada, oxida rapidamente”, referia recentemente uma nota do IPL sobre este assunto.

“A evolução da análise de risco alimentar tem resultado em limitações adicionais na utilização de aditivos alimentares, tornando a utilização de ingredientes de origem natural, como aditivos, e a formulação de revestimentos comestíveis uma opção cada vez mais procurada entre produtores e investigadores”, considera Susana Silva, acrescentando que “as propriedades funcionais e disponibilidade das macroalgas na costa portuguesa fazem destes organismos uma fonte ideal de ingredientes para revestimentos comestíveis de origem marinha”.

Outra investigadora ligada ao projecto, Maria Jorge Campos, considera que “com a aplicação desta nova solução, o tempo de vida útil do produto seco e embalado terá de ser superior a 6 meses e, aquando a abertura da embalagem, esta não poderá perder as características de protecção do produto”.

Diz ainda esta investigadora que “com o extracto hidro-etanólico da macroalga codium tomentosum, o qual possui capacidade de manutenção da cor em maçã Fuji, minimamente processada, será possível aumentar a sua durabilidade através da capacidade de inibição da actividade das enzimas polifenoloxidase e peroxidase, envolvidas no processo de escurecimento oxidativo”.

As algas originam uma solução, na qual a fruta é imersa, daí resultando o tal revestimento. Susana Silva esclarece que “toda a fruta tem um revestimento, é uma espécie de embalagem invisível dos alimentos”. Quanto à existência de um revestimento de origem marinha, pode vir a ter grande importância, pois permite a substituir aditivos sintéticos, valorizando os produtos em que for aplicado pela extensão do actual tempo de prateleira em vários dias e permitindo a sua exportação para novos mercados.

Importa recordar que o INOV C 2020 é um consórcio chefiado pela Universidade de Coimbra e do qual fazem parte dez parceiros nucleares: o Instituto Politécnico de Coimbra, o IPL, o Instituto Politécnico de Tomar, o Instituto Pedro Nunes, o ITeCons, o SerQ, a ABAP, a Obitec e o TagusValley. O seu objectivo “é consolidar a Região Centro enquanto referência nacional na criação de produtos e serviços resultantes de atividades de Investigação & Desenvolvimento”, refere uma nota do IPL, lembrando que também visa consolidar “o Ecossistema de Inovação, através da incorporação de uma oferta ampla de recursos, infra-estruturas e respostas a desafios específicos”.

O INOV C 2020 sucede ao Programa Estratégico INOV C, executado entre 2010 e 2015, é “co-financiado pelo Centro 2020, através do Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional (FEDER), com um prazo de execução compreendido entre 18 de Abril de 2017 e 17 de Abril de 2019”, sendo que os seus parceiros “executarão um investimento total de 1.627.614 euros, sendo o montante de 1.383.472 euros financiado pelo FEDER”, esclarece o IPL.

 



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