A Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves e os pescadores vão colaborar num projecto para identificar formas de diminuir o número de aves mortas por capturas acidentais nas artes de pesca
Sillk City

Concluída a fase preparatória, vai arrancar o projecto MedAves Pesca, promovido pela Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA), “que pretende trabalhar com pescadores de Peniche para juntos desenvolverem formas de reduzir o número de aves que morrem devido às capturas acidentais nas artes de pesca”, conforme informou a sociedade.

Trata-se de um projecto que vigora formalmente desde 1 de Julho de 2018 e estará concluído em 30 de Junho de 2020. Com um custo de cerca de 260 mil euros, conta com comparticipação comunitária no valor aproximado de 195 mil euros e nacional de pouco mais de 65 mil euros. Tem co-financiamento do MAR 2020, Portugal 2020 e Fundo Europeu dos Assuntos Marítimos e das Pescas (FEAMP).

De acordo com o comunicado, a SPEA, que há 10 anos analisa a morte acidental de aves marinhas devido a artes de pesca, quer agora “desenvolver e testar medidas para a redução das capturas acidentais de aves marinhas na Zona de Protecção Especial (ZPE) das Ilhas Berlengas”, que é “muito importante para espécies tão emblemáticas como a cagarra e a ameaçada pardela-balear”, refere a sociedade.

“Em estreita colaboração com a comunidade piscatória de Peniche, serão testados dispositivos a bordo de pequenas embarcações comerciais”, esclarece a SPEA. “No caso das redes de emalhar, serão testadas luzes sinalizadoras”, que são “lâmpadas led, protegidas por um invólucro em borracha que irão tornar a rede mais visível às aves dentro de água, fazendo com que estas as consigam detectar melhor e assim não se aproximem da arte e não fiquem presas”, refere a SPEA.

“No aparelho de anzol, vão ser testados dispostivos afugentadores em forma de ave de rapina, cujo objectivo é impedir que as aves mergulhem ao isco e que possam ficar presas nos anzóis”, nota a SPEA. São “medidas inovadoras, desenvolvidas com o apoio de especialistas e com base em estudos sensoriais com aves em cativeiro, e nunca antes experimentadas em Portugal”, considera a sociedade.

Segundo Ana Almeida, Técnica de Conservação Marinha da SPEA, “é fundamental que estes dispositivos não prejudiquem o decorrer da operação da pesca nem a quantidade de peixe capturado e por isso será também realizada uma avaliação do impacto económico”. A sociedade refere também que o projecto MedAves Pesca “inclui ainda uma avaliação das áreas mais vulneráveis às capturas acidentais na Rede Natura no meio marinho em Portugal Continental”.

Para a SPEA, “este é um problema de conservação a nível global que provoca, apenas em águas europeias, a morte de cerca de 200 mil aves por ano”. As capturas acidentais de aves marinhas nas artes de pesca “também acarretam impactos negativos para os pescadores, consumindo bastante tempo extra à tripulação e danificando artes de pesca”, pelo que é “fundamental estabelecer parcerias entre o sector da pesca e a comunidade científica, para encontrar soluções conjuntas”, considera a sociedade.

“Estudos pioneiros em Portugal identificaram que as redes de emalhar, palangres e redes de cerco são as artes de pesca com maior impacto nas populações de aves marinhas”, refere a SPEA, acrescentando que “apesar dos recentes avanços, há ainda grandes lacunas de conhecimento sobre este tema no nosso território, o que impede uma avaliação realista do verdadeiro impacto desta ameaça”. Uma lacuna que este projecto procura colmatar.

 



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