Alan Friedlander, professor e investigador com interesse na conservação marinha e nas Áreas Marinhas Protegidas (AMP), na ecologia dos recifes de corais e nas pescas e sua gestão, apesar de já trabalhar na sustentabilidade da pesca, desde 1981, foi com o convite de Enric Sala para um projecto da Mares Prístinos que despertou verdadeiramente para a aventura que duraria até hoje.
Perante tal jornada, que já conta com 25 expedições, entre as quais ao Cabo Horn, ao Árctico Russo e a oceanos como o Atlântico, o Pacífico ou o Índico, o investigador explica, numa entrevista ao Público, o porquê das AMP serem tão benéficas para as pescas e nomeia os Açores como lugar icónico, onde está, neste momento, numa expedição.
Nas inúmeras expedições, foi concluindo que “os locais onde não há pessoas, têm quase mais predadores do que presas”, e nesses abundam “tubarões, lírios, enxaréus, meros e outros grandes predadores”, explica, acrescentando que essa característica e a presença de espécies arquitectónicas, “espécies que criam estrutura”, é que fazem de um local prístino.
Prístino. Palavra que o investigador não acredita que ainda se possa referir a algum local, pois quase todo o oceano já sofreu com a “mão humana”, e dá o exemplo de “locais remotos do Pacífico Sul, onde não há pessoas” e “vemos por vezes, tubarões com anzóis na boca”.
O caso das Selvagens é um caso que o deixa “boquiaberto”, pois foram encontradas “incrivelmente em bom estado”, dito pelo próprio, que acredita que se deve ao facto de serem AMP e vigiadas constantemente. Já a ilha da Madeira apresenta, em comparação, resultados dramáticos. Os meros, por exemplo, abundam nas Selvagens, e o único local onde foram avistados na Madeira foi numa AMP, e porque o turismo vive das visitas a esses mesmos animais marinhos.
O balanço que faz desta “aventura” em que já passaram 25 expedições? Apelidando-a de “fantástica”, pois “potencia muitos recursos diferentes”, o investigador confessa que, apesar de não terem um papel directo nas políticas, têm pessoas para trabalhar essas questões que tentam “salvar os últimos locais selvagens dos oceanos”, inclusivamente com os “produtos mediáticos” da National Geographic, que “conquistam corações”.
Os Açores, um local que o investigador define como “especial”, tem uma boa equipa residente, pelo que naturalmente sabe que o cuidado com esta natureza se irá manter. Assim, o que trazem é “apoio a esse trabalho”, através da sua metodologia científica, e ideias que partilharão à posteriori.
Mas “agora é a altura de agir”, conclui o investigador dadas todas as expedições que já realizou. Ilhas tão fantásticas e tão frágeis, como os Açores, são “mais eficazes de conservar” do que de “tentar recuperá-las depois”.
Os maiores problemas: “a pesca em excesso, seguida da poluição e destruição de habitats”, pelo que agora, apesar de o clima continuar a mudar nos próximos anos, resta-nos “minimizar as ameaças sobre as quais temos controlo”, como as pescas, o desenvolvimento costeiro e a destruição de habitats, refere o investigador, que passou grande parte da sua vida debaixo de água, em locais que considera inspiradores e de “tirar o fôlego”, exactamente por serem ainda considerados algo “selvagens”.
Em concreto, a proibição de pesca de arrasto, a obediência a limites de dimensão dos peixes e de licenças, são cruciais. A equipa ira continuar no próximo ano, sendo que idealiza realizar novamente uma expedição pelo Árctico Russo, bem como voltar às Ilhas Marshall e às Ilhas da Linha, ao grupo sul, a primeira expedição que realizaram.
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