A subida dos níveis médios das águas do mar poderá custar 12 triliões de euros ao mundo, por ano, em 2100.
National Oceanography Centre

Estima-se que em 2100 este problema que parece estar fora de controlo, o aquecimento global, resulte não só numa subida imensa do nível das águas do mar, como num risco acrescido de inundações avassaladoras, segundo investigadores do National Oceanography Centre (NOC) e de uma equipa internacional de investigadores de Itália, Grécia, Países Baixos e Estados Unidos, refere comunicado oficial.

Um “falhanço na prossecução dos limites de 2 graus notificados pelas Nações Unidas”, terá consequências económicas graves para todo o mundo, na ordem dos 12 triliões de euros por ano. E, principalmente na China, os resultados poderão ser críticos. Num país que tem rendimentos acima da média, de acordo com uma classificação do Banco Mundial, os custos com as inundações serão os maiores (estima-se que cerca de 3 milhões de euros), enquanto que os restantes países, com os rendimentos mais elevados, sofrerão menos, graças aos altos níveis de infra-estruturas de protecção costeira.

Svetlana Jevrejeva, da NOC, a principal autora do estudo, refere que “mais de 600 milhões de pessoas vivem nas áreas costeiras de baixa altitude, a menos de 10 metros do nível do mar. Num clima de aquecimento, o nível do mar subirá, por causa do degelo – um dos aspectos mais prejudiciais do nosso aquecimento climático”.

“Descobrimos que com uma trajectória de ascensão de temperatura até 1,5 ° C, até 2100, o nível médio do mar terá aumentado 0,52 metros. Mas, se a meta ultrapassar os 2 ° C, veremos um aumento médio do nível do mar de 0,86 metros, e em casos extremos de 1,8 metros”, explica.

“Esses níveis extremos do mar terão um efeito negativo nas economias dos países costeiros em desenvolvimento e na habitabilidade das costas baixas”, sendo que serão principalmente afectados os “pequenos países insulares de baixa altitude, como as Maldivas”, assim como “as pressões sobre os seus recursos naturais e ambientais tornar-se-ão ainda maiores”, conclui.

 

Cada cenário é um caso, mas em 100 anos, catástrofes poderão registar-se anualmente

 

Um dos resultados mais inesperados é que as catástrofes naturais, ligadas ao nível do mar que ocorrem, em média, uma vez a cada 100 anos, poderão passar a ocorrer quase anualmente até o final do século. A equipa de investigadores calcula igualmente que os impactos do nível do mar serão reduzidos em cenários onde as emissões de CO2 foram mitigadas, ao contrário do que se prevê em cenários usuais, em grande parte devido à redução da expansão térmica dos oceanos e taxas mais baixas de degelo.

Sendo que um outro estudo da NOC publicado na Nature Communications explica o porquê. As oscilações no ciclo anual do nível médio das águas do mar ao longo das costas do Golfo e do Sudeste dos Estados Unidos estão ligadas às ondas de Rossby em larga escala, geradas no Oceano Atlântico. Essas ondas percorrem muito lentamente o oceano, a cerca de 0,15 quilómetros por hora, sendo que os efeitos na costa são apenas sentidos meses ou mesmo anos depois de serem formados no interior do oceano. E estas, quando combinadas com as marés vivas, podem levar a inundações.

Uma melhor compreensão desta “resposta costeira atrasada” pode permitir previsões sazonais auxiliando na gestão deste problema. O principal autor, Francisco Calafat, da NOC refere: “Esta descoberta é significativa porque ajuda a explicar alguns dos processos físicos que causam inundações costeiras, e isso ajuda-nos a prever melhor os impactos. Espero que alguns dos meus trabalhos futuros possam envolver o uso desse conhecimento para melhorar a previsão sazonal de eventos de inundação costeira ao longo da costa leste dos EUA”.

Estas descobertas foram efectuadas através do novo método estatístico desenvolvido pelo NOC – modelos oceânicos – que posteriormente interpretados pelo Serviço Permanente para Nível Médio do Mar (PSMSL, sigla em inglês), revelam o papel das ondas de Rossby no ciclo anual do nível do mar.

 

 

 

 



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