Devemos apostar em aquacultura mas sempre em conformidade com o que Portugal tem, em termos de espécies, de temperaturas e de infra-estrutura.
Martech

A sardinha é algo que devemos apostar em aquacultura. Temos mercado, trabalhamos a conservação, é tipicamente offshore e cresce a baixa temperatura, ideia que surgiu no seminário de aquacultura, no âmbito da 4ª Conferência Internacional de Engenharia e Tecnologia Marítima (Martech) e das 15ªs Jornadas de Engenharia e Tecnologia Marítima, que decorreram no Instituto Superior Técnico (IST), sob a égide do IST e da Ordem dos Engenheiros.

A indústria da aquacultura está a crescer, no entanto, como actividade pioneira, tem as suas complicações. Neste sentido, Pedro Aires, fabricante e fornecedor de rações, refere que estar a investir com pouca margem é impensável e que o que se tem feito é reduzir a taxa de conservação e aumentar a produção. Assim, há que apostar em espécies viáveis, como o salmão, por exemplo, que neste momento vive numa situação em que a rentabilidade é 50% de margem. Até porque em Portugal temos espécies de crescimento lento (apesar de a Madeira ser melhor, produzindo num ano o dobro do continente).

Não somos a Grécia, que como afirma Pedro Aires, é privilegiada. “Eles têm baías com 5 explorações todas juntas, quase se pode andar a pé de jaula para jaula. No entanto, a realidade da aquicultura madeirense tem condições mais difíceis e desafiantes”, explica. Têm de gerir-se 2 mil toneladas de peixe e gerir ainda mais toneladas de ração. E isto, às vezes, reflecte um problema de engenharia porque se tem pouco tempo disponível para cada jaula. É muito fácil ter uma estrutura bem desenhada e depois ter tudo a funcionar mal devido ao curto tempo para trabalhar cada jaula, ao acesso difícil, e às embarcações inadequadas.

A primeira região do país a fazer o Planeamento Espacial Marítimo, a Madeira, encontrava-se a produzir entre as 450 e as 600 toneladas de dourada, cerca de 50% ou mais da produção nacional. E tudo começou com um projecto, apresentado ontem, por Carlos Andrade, que requereu um estudo intensivo do espaço, apoios, para depois se determinarem as jaulas a experimentar. Importada a espécie, a dourada, foi dado início à experiência. “O projecto respondeu às questões, promoveu o treino, promoveu relações com as indústrias, e assim começaram a obter dados para começar a elaborar modelos de crescimento e alimentação que pudessem servir para outros negócios que pudessem ser tentados, pelo que foi um projecto base”, referiu Carlos Andrade.

Ainda assim, houve quem lembrasse que esta é uma actividade de risco e que tem de ser segurada. Mas as empresas exigem determinadas normas e condições de produção impensáveis e por isso, a maioria destes projectos em Portugal não tem seguro. A análise é feita por uma empresa de seguros, que vem detectar alguns pontos fracos, todo um trabalho de engenharia, feito por uma empresa especializada (não portuguesa). E depois, através de modelos de computador e de acordo com normas norueguesas, avalia-se.

Engenharia, corporativismo, colaboração dos privados e dos laboratórios do Estado, são questões importantes na aquacultura, mas que muito têm falhado e os exemplos foram latos. Basta viajar até à Universidade do Algarve para perceber que há equipamento óptimo estagnado, e porquê? Questão que estagnou também, sempre na perspectiva que algo mude.



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