A central nuclear russa Akademik Lomonosov começou a ser rebocada no Sábado, a partir de São Petersburgo e com destino a Murmansk. O percurso contempla passagem por águas dos Estados Bálticos. Depois disso, seguirá para Pevek, no Extremo Oriente russo

A primeira central nuclear flutuante (floating nucelar power unit, ou FPU) do mundo – a Akademik Lomonosov – começou a ser rebocada no Sábado, de São Petersburgo até Murmansk (duas cidades na fronteira ocidental da Rússia, com trajecto previsto por águas da Estónia, Dinamarca, Suécia e Noruega, além das águas russas).

Em Murmansk, irá proceder-se ao reabastecimento e teste da central, de onde será deslocada, através da Rota do Árctico, para Pevek, na região de Chukotka, no Extremo Oriente russo, para abastecer a cidade portuária, as plataformas de petróleo e instalações de dessalinização. Com este processo, é esperado o fornecimento de energia eléctrica a cerca de 200 mil pessoas da região, segundo comunicado da proprietária da central, a empresa energética pública russa Rosatom.

O transporte da central está a cargo do Serviço de Resgate Marítimo da Rosmorrechflot (a agência federal russa para o transporte marítimo e fluvial) e, de acordo com cálculos de especialistas, a velocidade média da caravana, sob condições favoráveis e na ausência de quaisquer imprevistos, será aproximadamente de 3.5 a 4.5 nós.

Apelidada pelo Greenpeace de floating Chernobyl e Chernobyl on ice, segundo recordam alguns meios de comunicação, em referência ao desastre nuclear de Chernobyl, em 1986, na Ucrânia, então integrada na então União Soviética, e que provocou uma evacuação em massa, tendo deixado áreas inabitáveis, a central estava inicialmente destinada a ser abastecida e testada em São Petersburgo. No entanto, devido a manifestações dos Estados Bálticos e do Greenpeace Russia, a Rosatom decidiu transferir a operação para Murmansk.

“Testar um reactor nuclear numa área densamente povoada como o centro de São Petersburgo é irresponsável. No entanto, mover os testes deste Titanic nuclear para longe dos olhos do público não o fará menos perigoso”, explicou Jan Haverkamp, ​​especialista nuclear da Greenpeace. “Os reactores nucleares que flutuam no Oceano Árctico representam uma ameaça chocantemente óbvia ao ambiente frágil”, acrescentou o especialista.

No entanto, segundo a empresa, esta foi desenhada com grande margem de segurança e os processos nucleares vão ao encontro de todas as exigências da Agência Internacional de Energia Atómica (IAEA, na sigla em inglês). Segundo a imprensa russa, a companhia já está a planear mais centrais flutuantes, sendo que já tem inclusivamente potenciais compradores, em África, na América Latina e no Sudeste Asiático.

Ao que parece, serão 15 países, incluindo a China, Argélia, Indonésia, Malásia e Argentina, que mostraram interesse em contratar centrais nucleares flutuantes. E, de acordo com Vitaliy Trutnev, responsável pela Direcção da Construção e Operação da Central Flutuante, nos últimos meses, a intensidade do trabalho tem aumentado.

Em todo o caso, Havenkamp refere que “as centrais nucleares flutuantes funcionarão em geral junto às zonas costeiras e em águas calmas” e acrescenta que “contrariamente ao que se diz sobre a sua segurança, o casco plano e ausência de auto-propulsão da central tornam-na especialmente vulnerável a maremotos e ciclones”.

“Até à data, uma parte dos trabalhos previstos no contrato com a Baltiyskiy Zavod Shipbuilding, em São Petersburgo, foi concluída com êxito. Na próxima etapa, que será realizada no território do Atomflot FSUE, em Murmansk, temos que resolver uma questão importante: preparar a instalação para levar combustível nuclear a bordo”, observou Vitaliy Trutnev.

 

Nota: Fotografia retirada do site oficial da Rosatom



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