Os Governos têm de ter noção das metas impostas pela IMO, considera a International Chamber of Shipping, acrescentando que a ICS merece crédito pela ambição agora demonstrada pelos Estados membros
GNL

A adopção, por parte da Organização Marítima Internacional (IMO, na sigla inglesa), de uma estratégia para acabar com os gases de efeito de estufa no transporte marítimo “deveria ser mais do que suficiente para desencorajar aqueles que erradamente advogam medidas regionais que irão certamente danificar o mercado global do comércio e não seriam eficazes no apoio à redução total das emissões de CO2 pelo sector”, admitiu o Chairman da Câmara Internacional da Marinha do Comércio (ICS ou International Chamber of Shipping), Esben Poulsson, na Singapure Maritime Week, recentemente, segundo comunicado oficial.

Na sequência da aprovação por parte da IMO da estratégia para redução de gases de efeito de estufa, que envolve metas de melhoria para o sector que envolvem um aumento de eficiência de 40% até 2030 e de 70% até 2050 (face a 2008), Esben Paulsson afirmou que é “importante que os Governos reconheçam a dimensão do que foi aprovado”, especialmente se forem tidas em conta “as projecções actuais sobre o crescimento do comércio”. E fez comparações com o sector da aviação, que até agora, ainda só concordou em manter as suas emissões totais de CO2 nos níveis de 2020, “sem planos para uma redução total”.

O Chairman da ICS lembrou que no âmbito do Acordo de Paris, a redução rumo às zero emissões por parte da economia global só arranca a partir de 2030, acrescentando que no caso do transporte marítimo, as emissões já são menos 8% do que eram há 10 anos, apesar de um aumento de 30% na procura comercial. Pelo que o sector “merece crédito por persuadir os Estados membros da IMO por reagirem ao Acordo de Paris de forma tão ambiciosa”, referiu. E isso inclui as propostas detalhadas que o sector fez sobre a estratégia da IMO semanas após o Acordo de Paris ter sido adoptado.

O mesmo responsável considerou também que “embora o gás natural liquefeito (GNL) e os biocombustíveis provavelmente façam parte de uma solução provisória, os grandes objectivos que a IMO estabeleceu para 2050 só podem ser alcançados com o desenvolvimento de sistemas de propulsão de zero emissões de CO2”. E aí a IMO elenca várias medidas candidatas, algumas das quais para vigorarem antes de 2023, apesar de o transporte marítimo ainda depender de combustíveis fósseis. A ICS está a preparar contributos para a IMO.

Todavia, Esben Paulsson considerou controversa a proposta de adoptar algum tipo de medidas de mercado (as chamadas market based measures, assentes em preços, incentivos, no próprio mercado em geral) e manifestou cepticismo em relação a essa via como forma de promover a redução de emissões de CO2. Segundo afirmou, o combustível já o principal encargo dos armadores e o seu preço deve aumentar dramaticamente na sequência da imposição da IMO relativa ao teor de enxofre admissível nos combustíveis marítimos a partir de 2020.

Para a ICS, seria preferível adoptar medidas técnicas, como o desenvolvimento de combustíveis de zero emissões de CO2. No entanto, se a IMO considerar que há a necessidade política de seguir a via das medidas de mercado, a preferência da indústria marítima “será pelo pagamento de uma taxa sobre abastecimento de combustível destinada a algum tipo de fundo ambiental da IMO”, referiu Esben Poulsson. Se tal taxa fosse aplicada, o fundo poderia aplicá-la em investigação sobre novas tecnologias de baixo carbono ou no apoio à instalação das dispendiosas infra-estruturas para abastecimento necessárias aos combustíveis de zero emissões de CO2.



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