Na última semana, activistas dos oceanos e das alterações climáticas de vários países juntaram-se para debater questões que preocupam o mundo
Talanoa Dialogues

Na passada Quarta-feira realizou-se o primeiro Talanoa Dialogues, um espaço de troca de experiências entre a Future Ocean Alliance, o Marrakesh Partnership, membros da Convenção Quadro das Nações Unidas sobre as Alterações Climáticas (United Nations Framework Convention on Climate Change United Nations, ou UNFCCC) e a Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT), cujo objectivo é “construir uma ponte entre as agendas climáticas e processos através das escalas de Governo, partilhando experiências e avanços na aceleração dos níveis de acção de clima global e local (Portugal), através dos sectores e estabelecendo um vínculo entre com o oceano nestas questões”.

Numa conversa aberta, James Grabert, Director de Mecanismos de Desenvolvimento Sustentável do Secretariado das Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável, defendeu que em matéria de alterações climáticas, “são os Governos que estão em posição de fazer acordos com os outros países” e o acordo de Paris representa, neste sentido, um grau estipulado. É só uma estrutura que nos permite trabalhar em conjunto para atingir um objectivo. Assim, na sua opinião, temos de ser ambiciosos e fazer grandes acordos, pois a própria economia entenderá a importância destas medidas e desta mudança de comportamentos.

Entre os oradores encontrava-se Artur Soares, presidente da Academia Nacional das Ciências da Lisboa, que se dirigiu ao representante das Fiji como o país semelhante a Portugal que está a viver as alterações climáticas, “e por isso entende a importância que tem a defesa intransigente dos oceanos neste contexto”. E concluiu, defendendo que esta é tarefa para todos, por este património que está a ser vítima dos oceanos.

“A água está a 40 graus à beira da areia e por isso, para se tomar banho, tem de se levar os bebés para fora de pé, ao colo, para nadar”, reflectiu Taholo Kami, Conselheiro Especial para as Parcerias do Pacífico e Pegada do Oceano do Governo de Fiji, explicando que o ser humano nunca vê a devastação até chegar a este nível. E no seu país principalmente, onde estavam habituados a navegar com as estrelas, acredita que é preciso trabalhar neste assunto. Tem de haver uma mudança no comportamento e por isso, nos próximos 12 meses, estarão a trabalhar com vários países, um dos quais Portugal. Esta preocupação com os oceanos é fundamental para activar uma agenda que de facto importe e o desafio é “convencer todos a trazer um programa efectivo neste sentido”, explica. “Se trocarmos o valor do oceano por outra coisa quanto nos custaria?”, questionou. No seu entendimento, seriam 32 mil milhões de euros para substituir a função dos oceanos.

Para Danielle Magalhães, da UNFCCC de Bona, estamos a chegar a “um tempo de implementação de um processo quando temos o acordo de Paris para alcançar a longo prazo”. E por causa disto, pela primeira vez, foi possível contactar com o sector privado e com os Governos internacionais, o que já é um passo na “facilidade do diálogo” e que já levou a que as partes discutissem um plano a nível nacional. Mas na sua opinião, o maior impacto nestas questões deu-se quando as Ilhas Fiji se juntaram com um “processo de storytelling em espaço aberto, trazendo soluções e não apontando o dedo”. Um processo que não faremos de igual forma, embora o Talanoa Dialogue venha criar exactamente este espaço aberto, através de uma plataforma na qual é possível a submissão de respostas sobre estas questões.

Carlos de Freitas, Co-director do Fundo Global para o Desenvolvimento das Cidades, explica que os financiamentos para projectos com vista à melhoria das alterações climáticas têm um grande problema porque o debate é feito com grandes bancos internacionais e baseiam-se nos seus modelos, sem que haja, neste sentido, fórmulas para os países em desenvolvimento. O papel do Fundo Global para o Desenvolvimento das Cidades é exactamente mapear todas as iniciativas e planos e mostrar aos bancos. Nunca poderão fazer eles o acordo e por isso há países que ficam esquecidos, entre os que costumam usufruir do financiamento, como o Brasil, a Turquia ou a China.

Ainda assim, este é o momento para juntar as perspectivas dos vários países e trabalhar sobre isso, pois interagindo com os programas dos Governos, será possível erradicar estes problemas das alterações climáticas, explica Yunus Arikan, da Global Policy and Advocacy ICLEI – Local Governments for Sustainability World Secretariat. Também a Air Center, uma iniciativa inter-governamental que visa identificar lacunas actuais e futuras e comunicar o progresso, participou deste diálogo com uma nova maneira de integrar diferentes stakeholders e diferentes áreas.



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