Se todos os anos comportam o seu desafio específico, em 2017, o desafio para o Jornal da Economia do Mar, o decisivo desafio é o da internacionalização.

Sim, o desafio decisivo em 2017, para o Jornal da Economia do Mar, é o desafio da internacionalização.

Demasiado ambicioso?

Ambicioso, talvez, mas longe de «demasiado ambicioso», como, aliás, a recente presença no Euromaritime/Eurowaterways enquanto Media Partners o confirma.

Foi um pequeno passo mas significativo. A vários títulos, mesmo muito significativo.

Em primeiro lugar e antes de mais, pela escassa surpresa que a nossa presença gerou. Afinal, de uma nação tão eminentemente marítima como a nossa, nada de diferente seria de esperar, ou seja, não obstante alguma curiosidade em saber-se exactamente quais as áreas em que Portugal está a investir predominantemente, além das energias renováveis, sempre uma área mais conhecida, entre outras razões, pelo projecto do WindFloat, dúvida alguma há que o estará a fazer consciente e tanto intensiva quanto extensivamente.

Não desiludimos ninguém e, para além das renováveis, falando, para além do WindfFoat, também das experiências do WaveRoller em Peniche, muito enaltecemos a nossa biotecnologia, a nossa robótica, os nossos Sistemas de informação, manifestando, inclusive, espanto e incredulidade por ver a Europa estar a começar a desenvolver de raiz o que em Portugal há muito funciona em pleno, como, por exemplo, o famigerado caso da JUP (Janela Única Portuária), entre alguns outros aspectos.

Exagerámos até um pouco?

Talvez, um pouco _ sobretudo quando deixámos subentendido sermos uma nação com plena consciência marítima e, por consequência, com consequente, passe o pleonasmo, estratégia marítima e, muito em particular, Atlântica.

E o mais extraordinário foi termos ouvido algum lamento por não se ver o mesmo empenho político em França quando, olhando nós, de fora, vemos a mesma França com uma capacidade marítima que só podemos, de alguma forma, invejar, mais não sendo necessário senão olharmos para os meios disponíveis e correspondente trabalho realizado por um IFREMER, fundado somente em 1984 mas dispondo actualmente de um orçamento na ordem dos 210 milhões de euros, fora despesas internas de operação, com um quadro de pessoal de 1 464 pessoas, 595 das quais engenheiros/investigadores, cinco Centros de Investigação, um Atlântico, outro na Bretanha, ainda outra na Mancha – Mar do Norte, além do Mediterrâneo e do Pacífico, bem como outras tantas 20 instalações costeiras, seis navios de pesquisa, três dos quais de longo curso, um submersível, dois ROV e dois AUV.

E França, alguns franceses, pelo menos, mas de longe até alguns dos melhor informados sobre os assuntos marítimos, olha, ou olham, ainda hoje para Portugal como uma nação realmente marítima, com a qual terão sempre algo a aprender, com a qual haverá, por certo, sempre algum benefício a retirar na realização de negócio e, mais até, no desenvolvimento de projectos em parceria.

Um bonançoso mar de oportunidades e infinita bem-aventurança?

Não tanto, mas há, ou haverá, afigura-se, oportunidades que, muito provavelmente, não estaremos, eventualmente, a explorar devidamente.

Apenas isso.

De qualquer modo, a questão é que, se 2014 foi o ano do lançamento do Jornal da Economia do Mar, 2015 o ano da sua afirmação e 2016 o da consolidação, 2017 deverá ser, de facto, o ano da internacionalização.

Não é, evidentemente, por mero acaso que surge agora este desafio que foi, desde início, uma das grandes finalidades do próprio projecto. Nem única e muito menos exclusiva, mas uma das suas grandes finalidades.

Como se percebe facilmente e todos sabemos, de um ponto de vista económico e de negócio, para uma nação como Portugal, a internacionalização é determinante, mesmo nos assuntos marítimos.

Como também é patente e múltiplas vezes se tem referido aqui no Jornal da Economia do Mar, sofremos, infelizmente, de um problema de escala e dimensão que, independentemente da intrínseca qualidade, efectivo avanço e mesmo pioneirismo, muitos dos mais inovadores projectos acabam hoje por ser completamente ultrapassados por outros exactamente por impossibilidade de atingirem aquele ponto de efectiva transformação num produto passível de real afirmação no mercado.

Porque sucede isso?

Várias serão as razões, por certo, mas, além da dimensão de mercado, o facto de a concorrência se exercer logo à partida, no âmbito de um mercado exíguo, também não ajuda. Ou seja, é necessário perceber que o verdadeiro mercado é externo, como externa a verdadeira concorrência, de modo a ter uma outra visão e uma outra atitude mais conducente com os desafios da nossa era, i.e., a era de uma economia crescentemente aberta, crescentemente interdependente e tecnológica.

Nada de novo. Há 500 anos, guardadas as devidas proporções, já era assim, como sempre será.

E importa ter ainda consciência, cada vez mais consciência, de que não estamos sozinhos.

Dir-se-á todos sabermos isso, sem dúvida, mas uma coisa é sabermo-lo intelectualmente, se assim podemos dizer, e outra, muito diferente, é sabermo-lo, como se soe dizer-se em Psicologia, com plena «tomada de consciência» disso.

E mais do que tudo, olhando para o mar, os desafios que vemos são também, neste momento, essencialmente, conceptuais, de imaginação e real capacidade de inovação, verdadeiramente tecnológicos, onde temos ainda uma assinável vantagem competitiva.

Saibamo-lo não a perder.

Porque razão a Europa ainda constrói Fragatas, Submarinos ou Navios de Cruzeiro?…

Evidentemente!…

Será necessário dizer mais?

Ah!, tão vasto o mundo _ e o mar!…

 



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