São as conclusões de investigadores do Reino Unido que fizeram uma recolha de dados com novos métodos forenses.
Universidade de Plymouth

Oito investigadores do Reino Unido concluíram que os micro-plásticos, conhecidos por serem, nos dias de hoje, omnipresentes nos oceanos e prejudiciais a muitos organismos vivos, estão a entranhar-se sobretudo nos peixes meso-pelágicos, cujas migrações contribuem para a oxigenação (transporte de carbono e nutrientes) do mar profundo. Do seu estudo, no Atlântico Nordeste, concluiu-se 73% dos peixes analiados tinha micro-plásticos no estômago.

Estas são conclusões de um estudo publicado no Frontiers in Marine Science, financiado por um bolsa de pós-graduação da National University of Ireland Galway, no âmbito de um Roteiro Marinho do Irish Centre for Research in Applied Geosciences (iCRAG), com o apoio do Instituto Marinho Irlandês, do Programa de Pesquisa Marítima do Governo Irlandês, e do Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional.

De uma profundidade entre 300 e 600 metros, analisou-se uma amostra de 233 peixes de sete espécies distintas, de onde se extraíram os micro-plásticos para examinar, tendo-se avistado sobretudo fibras de polietileno. Este estudo distinguiu-se de outros sobre o mesmo assunto, segundo os investigadores, pelo recurso a um tipo de instrumento, a partir do polímero, mais exacto – Micro-Fourier Transform Introspective Infrared Spectroscopy (micro-FTIR). Com este método, foi detectada uma taxa de ocorrência de micro-plásticos relativamente grande, em contraste com estudos prévios, que relataram taxas de ocorrência de 11% no Atlântico Norte e 9% e 35% nas regiões do Pacífico.

Espécies como Gonostoma denudatum, muito comum em Portugal, tiveram a maior taxa de ingestão (100%), seguida de Serrivomer beanii (93%) e Lampanyctus macdonaldi (75%). No total, 452 fragmentos micro-plásticos foram extraídos dos intestinos dos peixes, com uma média de 1,8 fragmentos micro-plásticos por peixe. O maior número médio nos teores intestinais foi registado no S. beanii (2.36), seguido de M. punctatum (2.28) e G. denudatum (2.2).

Esta é uma preocupação que já não é recente, os micro-plásticos já demonstraram ter um impacto negativo nas espécies de invertebrados, causando perda de peso, alimentação reduzida e inflamação. Além disso, há uma crescente preocupação com o efeito de poluentes químicos absorvidos dos micro-plásticos – estudos anteriores relataram até 106 concentrações mais elevadas de Bifenilos policlorados (classe de compostos muito prejudiciais à saúde) nos peixes do que na água do mar circundante e recentemente, mostrou-se que o peixe de arroz japonês (Oryzias latipes) e o peixe arco-íris (Melanotaenia fluviatilis) acumulam facilmente poluentes químicos de micro-plásticos ingeridos.



2 comentários em “Também há micro-plásticos no estômago dos meso-pelágicos”

  1. Francisco Portela Rosa diz:

    É uma alerta importante.
    Creio que estas micro fibras agora referidas, tem origem nas máquinas de lavar a roupa, que durante a operação de lavagem arrancam micro fibras dos tecidos.
    É urgente que o Governo, produza legislação que obrigue as marcas das maquinas a incluírem com a máquina um saco de retenção de micro fibras.
    Existem já alusões de que o sal marinho que utilizamos contém micro fibras

  2. Antonio Bustorff Bello diz:

    Este artigo é quase Chinês.
    Podiam começar por informar-nos o que são e quais são os peixes meso-plágicos?
    Muito obrigado

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