Surtos de doenças nos recifes de corais da Ásia-Pacífico podem fazer com que se percam cerca de 300 mil milhões euros
Miguel Saldanha

Os surtos de doenças dos recifes de corais estão intimamente ligados ao grande problema dos oceanos de hoje: os plásticos. Esta conclusão é de um estudo feito por uma equipa de cientistas, publicado no Journal of Science, que descobriu que cerca de 11 mil milhões itens de plásticos estão enredados nos corais de recifes ao longo da região da Ásia-Pacífico, prevendo-se que este número cresça até 40% em 2025, o que pode significar 15,7 mil milhões de itens de plásticos no mar.

Os recifes de corais, quando em contacto com o plástico, aumentam em 89% a probabilidade de apresentarem doenças, em detrimento dos 4% de probabilidade de ter doenças por parte de um coral que não esteja em contacto com os plásticos, segundo um estudo realizado em 154 recifes da Ásia-Pacífico. De acordo com o modelo dos cientistas, a distribuição geográfica prevista dos plásticos nos recifes de corais não se alterará substancialmente até 2025 (mas a disparidade nas quantidades de resíduos plasmáticos acumulados entre os países em desenvolvimento e os países industrializados crescerá consideravelmente; por exemplo, os detritos de plástico nos recifes de corais aumentam apenas 1% em países como a Austrália, mas quase crescem o dobro em países como o Myanmar).

Outro problema é que, por exemplo, nos recifes de corais, a perda de disponibilidade de habitat estrutural para os organismos do recife pode reduzir a produtividade da pesca e, segundo o estudo, com esse tipo de privações podem perder-se cerca de 300 mil milhões de euros gerados em bens e serviços através da pesca, do turismo e da protecção das costas.

Os surtos de doenças relacionadas com o clima já afectou globalmente os recifes de corais e prevê-se que aumente a sua frequência e gravidade à medida que a temperatura do oceano aumenta. Com mais de 275 milhões de pessoas que dependem de recifes de corais, a moderação dos riscos de surtos de doenças no oceano será vital. A redução de plástico torna-se, mais uma vez, fundamental para reduzir as doenças que ameaçam a saúde dos ecossistemas e da vida humana. Estima-se que 80% dos detritos plásticos marinhos são originários da terra, pelo que o desafio é diminuir os níveis de detritos plásticos que entram no oceano através da melhoria da infra-estrutura de gestão de resíduos.



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