Foram resgatados com vida e sem ferimentos todos os 61 passageiros e os nove tripulantes do ferry Mestre Simão, da Atlanticoline, que encalhou ao largo da Vila da Madalena, na Ilha do Pico, nos Açores, na manhã de Sábado, de acordo com informações da Autoridade Marítima Nacional (AMN).
O resgate fez-se pouco depois de recebido o alarme (o que ocorreu às 09H30 de Sábado, segundo declarou à RTP o Capitão do Porto da Horta, o Comandante Rafael Silva) e os passageiros chegaram ao porto da Madalena cerca das 10H15, informa o comunicado da AMN.
De acordo com a AMN, “os 61 passageiros, bem como os nove elementos da guarnição do Mestre Simão, foram transferidos para uma embarcação marítimo-turística local, através das lanchas da Autoridade Marítima e, posteriormente, foram transportadas para o porto da Madalena a salvo e em segurança, onde chegaram cerca das 10h15 locais, sendo acompanhas durante o trajecto por uma lancha da Polícia Marítima”.
O navio, que operava desde 2014, encalhou quando fazia o trajecto entre as ilhas do Faial e do Pico. Trata-se de um navio que participa na carreira diária inter-ilhas, ligando as ilhas do «Triângulo» – Pico, Faial e São Jorge -, e é de grande importância para o transporte de passageiros entre as ilhas, pelo que o incidente gerou preocupação entre a população que depende deste meio de transporte para se deslocar entre as ilhas, inclusivamente por motivos profissionais.
Na origem do incidente poderão ter estado diversas causas, embora as mais referidas tenham sido falha técnica ou o estado do mar. Segundo o Comandante Rafael Silva, em declarações prestadas à RTP, a remoção do navio será complexa. Ontem, na sequência de uma melhoria das condições meteorológicas e do mar, foi possível aceder ao navio, mas outras análises sobre o estado do navio e as potenciais causas do incidente dependerão sempre do trabalho de mergulhadores. Segundo Rafael Silva, também ontem já tinha sido possível recuperar a chamada «caixa-negra» do navio.
Ontem, no entanto, a principal preocupação era a contenção de combustível derramado e que, segundo Rafael Silva, não era em volume preocupante. Embora o comunicado da AMN, datado de 6 de Janeiro, referisse apenas possibilidade de derrame, ontem, a Correio da Manhã TV (CMTV), com base em informação da Rádio Renascença, noticiava já que o navio estava a perder combustível para o mar. Em todo o caso, foram instaladas barreiras de contenção e a operação de recolha, igualmente considerada difícil, iria contar ainda com material absorvente e de recuperação do combustível.
Lizuarte Machado, da Portos dos Açores, considerava ontem de manhã que “a extremidade sul” da barreira instalada ia ser “ligada a terra” e que “a extremidade no cais acostável” ia “ser rebocada para a zona do molhe oeste, no sentido de circundar o navio e delimitar uma possível zona de contaminação”.
A RTP dizia ontem que os principais tanques de combustível do navio, que estava completamente inundado, estavam submersos, pelo que o derrame estaria, até ao momento (13 horas de ontem), controlado. Na mesma estação, um representante da organização ambientalista Quercus acrescentava outro risco, além do combustível: o dos óleos existentes nos navios, que podem constituir igualmente um problema ambiental.
Lizuarte Machado considerava ontem de manhã, no entanto, que “a verdadeira avaliação será aquela que os mergulhadores vão fazer, até para se perceber também se é possível, com uma mangueira estendida para o lado das piscinas, retirar o resto combustível dos três tanques de combustível do navio”. O que se fez de tarde. “Pelas 14 horas foram iniciadas operações de mergulho por mergulhadores especializados em salvação marítima, contratados pela empresa Atlanticoline, para verificação subaquática da extensão dos danos no casco e para a realização de ações de contenção do gasóleo que se têm libertado dos tanques de combustível do navio, tendo em específico tamponado todos os respiradores dos tanques de combustível e lubrificantes para evitar futuras fugas”, refere um comunicado de ontem da AMN, no qual se acrescenta que estas acções foram acompanhadas “de perto por peritos técnicos da seguradora”.
Na operação, que já justificou uma reunião do presidente do Governo Regional dos Açores, Vasco Cordeiro, com elementos das entidades envolvidas, estavam empenhadas até ontem cerca de 60 pessoas da Portos dos Açores, 45 militares da guarnição do navio patrulha oceânico Viana do Castelo e 17 do Comando Local da Polícia Marítima da Horta, sem contar com os provenientes das agências ambientais e das entidades de protecção civil.
Em declarações à RTP, Vasco Cordeiro destacou o papel exemplar da tripulação no salvamento dos passageiros, acrescentando que as principais preocupações do seu Executivo relativamente ao incidente eram agora a questão ambiental e a reposição do serviço de transporte entre as ilhas. Sublinhou igualmente que desde o início o Governo Regional mobilizou todos os meios para fazer face à ocorrência e que todas as entidades envolvidas estavam fortemente empenhadas em resolver a situação.
De acordo com a RTP, com este acidente e o outro navio da Atlanticoline que fazia esta rota, o Gilberto Mariano, em doca seca, a empresa passa a utilizar a dois navios mais antigos durante os próximos dois meses para repor o serviço. Entretanto, uma greve dos trabalhadores da empresa iniciada em 4 de Janeiro para revisão do acordo terá sido desconvocada, na sequência desta ocorrência.
Ontem, a CMTV afirmava também que a Polícia Marítima já tinha aberto um inquérito para avaliar os motivos do acidente.
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Reportagem alargada sobre o encalhe do navio “Mestre Simão”:
http://www.caisdopico.pt/2018/01/navio-mestre-simao-encalha-na-madalena.html