Investigadores contactados pela TSF admitem risco a longo prazo mas Governo desvaloriza prazos acima dos 40 anos
Energia dos oceanos

Um estudo sobre as zonas da costa portuguesa mais vulneráveis à subida do nível médio do mar realizado por investigadores portugueses da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa revelou que uma área da Base Aérea do Montijo, correspondente a edifícios de apoio a militares e que não abrange as pistas, é vulnerável à subida do mar, referia ontem a TSF.

De acordo com a TSF, que falou com os investigadores, existe “um risco a longo prazo, até 2100, mas que é ainda maior, afectando muito mais espaço, se em vez dos critérios usados neste estudo se aplicarem os de uma directiva europeia que colocam quase metade da base aérea, incluindo parte importante da pista, a poder ficar durante algum tempo do ano debaixo de água”.

Segundo a estação, Filipe Duarte Santos, especialista em alterações climáticas, coordenador de estudos sobre este tema e revisor do relatório do Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas, também considera que a elevação do nível do mar pode vir a constituir um problema para um futuro aeroporto no Montijo.

Em declarações à TSF, o investigador defendeu a solidariedade inter-geracional. Como em 2100, no Montijo, “o nível do mar estará, provavelmente, um metro acima”, teremos que “pensar que se construirmos um aeroporto nos próximos 10 anos”, isso afectará os adultos de 2100, pelo que deveremos ter em consideração esse aspecto.

Confrontado pela estação com estes dados, o Ministério do Planeamento e das Infra-estruturas (MPI) terá esclarecido que os estudos realizados antes do anúncio do novo aeroporto no Montijo e os que se realizarão até ao final deste ano têm um horizonte temporal de 30 a 40 anos, refere a TSF. O Governo terá acrescentado que os dados mais recentes apenas consideram riscos de inundação na Base Aérea de Alverca, para a qual também terá sido equacionada a construção de um novo aeroporto.

O horizonte de 2100 parece estar completamente fora das previsões do Governo. Não só porque é impossível saber se a infra-estrutura ainda existirá no Montijo nessa data, mas também porque a questão do nível das águas será objecto de uma avaliação ambiental a realizar até ao final deste ano e porque no plano económico o horizonte em perspectiva é o dos próximos 40 anos, segundo terá admitido fonte do MPI à TSF.

Nas redes sociais, houve de imediato quem associasse a divulgação do risco enfrentado por um futuro aeroporto no Montijo relativamente à subida do nível do mar a influências daqueles que pretendem uma diferente localização para infra-estrutura.



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