Projecto estimado em 11,1 milhões de euros
Barco Mirpuri

Já navega no Atlântico rumo a Barbados, nas Caraíbas, o Mirpuri Foundation, o veleiro modelo Volvo Ocean 70 com que a Fundação Mirpuri está a promover a criação de uma equipa de língua portuguesa para participar na regata Volvo Ocean Race (VOR) em 2020. Um projecto que envolve, desde já e até ao final da regata, um investimento aproximado de 12 milhões de dólares (cerca de 11,1 milhões de euros), conforme admitiu ao nosso jornal o presidente da Fundação, Paulo Mirpuri.

Estabelecida em Portugal, a Fundação Mirpuri gere “as contribuições solidárias da família” e apoia “projectos específicos nas áreas aeroespacial, pesquisa médica, conservação marítima, preservação da vida selvagem e responsabilidade social”, refere-se num documento da Fundação. “No âmbito do programa de conservação marítima, está em curso uma série de projectos e iniciativas relacionadas com os oceanos”, entre os quais a participação na VOR, que servirá para sensibilizar a comunidade internacional relativamente à preservação dos oceanos.

Nesse contexto, o próprio Paulo Mirpuri está a realizar “a sua primeira travessia transatlântica a bordo de um veleiro de alta competição VOR70”, explica a Fundação. O veleiro partiu no passado dia 29 de Janeiro da ilha de São Vicente, em Cabo Verde, e deve chegar às Barbados no próximo dia 3 de Janeiro, se a viagem de 2.300 milhas náuticas (4.140 quilómetros) decorrer como previsto. A viagem representa “o início de um projecto náutico mais vasto”, que inclui o patrocínio de uma equipa de língua portuguesa “num evento de vela relevante a nível mundial”, como a VOR.

Conforme explica a Fundação, “o trabalho e dedicação de uma tripulação oceânica para conseguir o objectivo – cumprir uma rota e chegar a bom porto – tem um paralelo importante com os valores da Mirpuri Foundation; a ética, a coragem, a tenacidade, a persistência, a esperança, o espírito de equipa, a tecnologia e a inovação são pontos fundamentais na saga de uma travessia oceânica”. E acrescenta que “o valor simbólico desta acção – atravessar um oceano, enfrentar o desconhecido, encarar as dificuldades e chegar a bom porto – é importante para divulgar a mensagem da Mirpuri Foundation”.

De acordo com o previsto, a tripulação que agora segue a bordo do Mirpuri Foundation espera fazer a viagem a uma velocidade média entre os 15 e os 20 nós. Ontem, ao segundo dia de viagem, com 700 milhas percorridas, o navio viajava a uma velocidade média de 18 nós, com picos de até 30 nós, “sob ventos de este-nordeste, com força de 22 nós, e um mar agitado com vagas entre os 5 e os 7 metros”, segundo informação partilhada com o nosso jornal. Em comunicado a partir de bordo, Paulo Mirpuri, que é o skipper, e Johannes Schwarz, gestor do projecto e proprietário do navio, diziam que a viagem ao largo estava a ser “bastante molhada, pois as ondas são grandes e varrem todo o convés do barco, tornando o trabalho dos tripulantes em turno ainda mais difícil e desgastante”.

Embora seja a sua primeira viagem transoceânica, Paulo Mirpuri tem experiência em “navegação costeira e a solo em vários tipos e classes de veleiros, desde barcos olímpicos, como o Laser, a veleiros de cruzeiro com mais de 50 metros de comprimento, monocascos e multicascos, nos oceanos Atlântico, Índico e Pacífico”. O navio é o ex-Green Dragon, já comandado pelo famoso skipper Ian Walker, tem 21 metros de comprimento, 5,7 metros de boca, mastro de 31,5 metros e calado/quilha pivotante de 4,5 metros.

Nesta viagem, o presidente da Mirpuri Foundation rodeou-se de uma tripulação experiente e profissional: Johannes Schwarz (Áustria, gestor de projecto), Gerwin Jansen (Holanda, chefe de turno e afinador da vela grande), Enrico Civello (Itália, timoneiro e especialista em manutenção), Filip Pietrzak (Polónia, proa, afinador de vela e pitman), Kevin Maurer (Alemanha, timoneiro e afinador de vela), Adrian Bleninger (Alemanha, afinador de vela, proa e foredeck), Luca Salerno (Itália, tripulante permanente) e Giulio Canale (Itália, on board reporter).

O “projecto português”, como lhe chama a Fundação, “pretende honrar o país e a sua longa tradição e história ligadas aos oceanos, às descobertas de novos mundos e ao desenvolvimento científico e tecnológico”. Neste momento, segundo admite a Fundação, já existem “dezenas de candidaturas espontâneas de atletas de alto nível da vela nacional, com títulos europeus, mundiais e participações em Jogos Olímpicos” para integrarem a tripulação que deverá participar na VOR em 2020.

Sem adiantar quaisquer nomes de candidatos ao nosso jornal, Paulo Mirpuri admitiu que em Junho deste ano poderá ser confirmada oficialmente a participação da Fundação na regata, para o que estão em curso conversações com a organização da prova. A selecção final da tripulação (que poderá ser masculina, feminina ou mista) estará concluída até ao final do ano. Para serem escolhidos, os candidatos terão que ter um nível técnico “muito bom” e, como “futuros embaixadores da Mirpuri Foundation”, deverão partilhar os valores da Fundação. Depois, serão três anos de preparação da tripulação, até 2020, especificamente para a VOR.

Se vier a confirmar-se a participação da Fundação na VOR de 2020, Paulo Mirpuri estará em todas as escalas da prova e estará a bordo do veleiro – a construir especialmente para o efeito – na última etapa da competição. “Sonho naturalmente com a vitória da nossa equipa, mas o objectivo principal é participar e concluir a regata, levando a mensagem da Mirpuri Foundation a todos os continentes e sensibilizar algumas dezenas de milhões de pessoas para a nossa causa”, refere Paulo Mirpuri.



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